Absorvemos a mensagem?

25/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A cada ano se repete a celebração do Natal. O consumismo procura convertê-lo em data favorável à aquisição de bens materiais, com os quais presenteamos pessoas queridas e outras nem tanto. Convenções sociais impuseram a expectativa de comportamento de que esta é a fase de mostrar gratidão. Frustram-se os que não recebem aquilo que acreditam merecer.

Na busca de não se esquecer dos expectantes, os preocupados em aparentar conformidade com o que é de bom tom elaboram listas, procuram satisfazer tanto o bolso como o presentado. Nessa azáfama se esquecem do principal.

O que é Natal? É festa cristã. Não é festa pagã. É a data em que se comemora o nascimento de um homem histórico, nascido na Belém da Judeia, em data que marcou o início de uma nova era. Jesus Cristo é o aniversariante e nem sempre é lembrado. Paradoxal: o único a merecer presente, é aquele que nada recebe.

O que significou, para a Humanidade, a chegada dessa criança? Para os cristãos, é a confirmação da promessa do Criador de que as criaturas racionais seriam redimidas do pecado original. Para isso, fez com que seu próprio Filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, se encarnasse e vivesse como criatura mortal, até sua crucificação e morte cruenta e cruel.

Cristo não nasceu em maternidade provida de todas as mordomias de um hotel de seis estrelas. Ao contrário: nasceu numa espécie de gruta, que servia como abrigo para animais. Foi colocado numa manjedoura, abastecida do feno que alimentava o gado.

Seus pais mostraram observância dos deveres cidadãos. Não moravam em Belém. Foram para cumprir a ordem de se recensear no local em que haviam nascido. Nessa viagem, chegou a hora para Maria.

Seria como se hoje o Cristo nascesse num acampamento de migrantes. Fora do conforto domiciliar. Ou num cortiço, ou num logradouro público que infelizmente serve de residência para o número crescente dos moradores de rua.

Não foi por acaso que assim se deu. A mensagem é clara: o cristão deveria ser alguém despojado de egoísmo e de apego a bens materiais. Amigo dos animais. Simples, pobre e feliz.

A infância de Jesus foi a de menino humilde, aprendiz de carpintaria, ajudante de seu pai, num anonimato que só cessou aos trinta anos. Aí, sim, veio a assumir sua missão. E deixou lições que mudaram a face da Terra, mas que aos poucos vão sendo olvidadas.

Amar ao senhor Deus com todas as forças, com toda a alma, com todo o empenho e amar ao próximo como a si mesmo. Quem consegue "amar o próximo"? Tal mandamento é considerado tão impossível, que só por absurdo seria real. Ao contrário, parece mais fácil odiar o próximo, detestar o próximo, desprezar o próximo, hostilizar o próximo, maldizer o próximo, trata-lo como inimigo e querer o seu mal.

Quem é que consegue levar a sério o perdão? Quantas vezes perdoar? Sete vezes? Não: setenta vezes sete! E oferecer a outra face ante o golpe recebido? E conviver com os pecadores, respeitar a humanidade de seres estigmatizados por se desgraçarem, ser o bom samaritano e fazer o bem até para aqueles que estão em polo antagônico ao nosso?

A mensagem de Cristo é contundente e objetiva. Segui-la é um desafio. Os primeiros cristãos conseguiram observá-la. Por isso eram identificados por viverem de forma diferente: "Veja como se amam!".

E se nos propuséssemos a viver autenticamente de forma cristã? Essa a verdadeira revolução! Que tal tentarmos? Feliz e Santo Natal para todos!

José Renato Nalini é reitor, docente do programa de pós-graduação e autor de "Ética Geral e Profissional" (jose-nalini@uol.com.br) 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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