Aprender com a natureza

22/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Os países de Primeiro Mundo acordaram para a crise climática, a mais perigosa deste século. Adotaram práticas e métricas para cobrar do governo e da sociedade uma conduta mais responsável em relação ao ambiente. Mas isso não é o suficiente, embora necessário. É preciso trabalhar tanto na regeneração da cobertura vegetal devastada, quanto na solidificação de uma consciência cidadã forte na tutela ecológica.

Grandes empresas no mundo inteiro promovem fins de semana chamados "aprendizagem experiencial", para fazer com que seus funcionários conheçam mais de perto a natureza. O lema pode invocar frase do escritor infantil americano E.B.White: "Se nos esquecermos de saborear o mundo, que possível razão teremos para salvá-lo?".

Verificou-se que embora um percentual considerável de pessoas seja simpático à causa ambientalista, mais da metade dos integrantes de uma empresa que adota a cultura ESG não consegue explicar os compromissos assumidos, nem como torná-los efetivos.

Essa é uma outra vertente negocial para quem está em busca de fazer algo lucrativo em benefício da sustentabilidade. Criar empresas como a Bio-Leadership Project, ou Projeto Bioliderança. Há um campo imenso de possibilidades aberto a quem queira inovar nessa área. São iniciativas que propiciam experiências como excursões a lugares ainda não devastados. Utilizam-se de métodos pouco ortodoxos, como jogos e conversas em torno de fogueiras, diários e brainstorming ao ar livre.

Gestos mais ousados, como a criação da Universidade da Terra, pretendem gerar discussões sobre como salvar a Terra, incentivando as boas práticas, premiando as melhores e disseminando o conhecimento adquirido para conquistar cada vez número maior de adeptos.

Empresas que levam a sério a sustentabilidade têm de dar o exemplo. Formar hortas para que a alimentação dos funcionários provenha de fonte limpa, sem os herbicidas venenosos que ganharam o agronegócio brasileiro. Tem de ter um jardim e fomentar em seus funcionários a iniciativa de terem, nas suas casas, seus próprios jardins e hortas. Cuidar de cada espaço ocioso, seja ou não próximo à sede da empresa, para fazer replantio, viveiro de mudas, mediante coleta daquelas que são desperdiçadas na natureza, à falta de um trabalho sério de aproveitamento daquilo que o ambiente oferece gratuitamente ao bicho-homem.

O aprendizado com a natureza não se faz com memes, com powerpoint, com palestras, com filmes. Claro que é bom aprofundar o conhecimento mediante leitura adequada. Mas a volta à natureza e conhecer diretamente os ecossistemas é o que realmente interessa.

As empresas, os clubes, as escolas, as entidades - incentivadas ou não pelo governo, que tem outros focos mais interessantes de atuação - devem ter seus projetos próprios de ecoeducação. Visitar lugares degradados e propor mutirões de restauração. Redescobrir nascentes e premiar aqueles heróis anônimos que atuam nessa esfera tão negligenciada, mas tão importante.

A natureza é uma sala de aula muito eficiente. E uma cidade como Jundiaí, que tem o privilégio de uma Serra do Japi que só tem servido como valor agregado à invasão imobiliária, deveria merecer o carinho de toda a população. Numa sociedade mais ecológica, proliferariam projetos de preservação e de utilização tutelar, para ganho da consciência ecológica das atuais e futuras gerações.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e autor de "Ética Ambiental" (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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