Um ano difícil

21/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

2022 deve ter sido para todos um ano de aprendizados e grandes obstáculos.

Bom, ao menos para mim foi. Desde problemas de saúde de familiares mais próximos a questões financeiras e dificuldades no mundo do trabalho, muitas lições, muitas ilusões, desilusões, reconstruções.

No âmbito político testemunhamos, ao mesmo tempo, o último ano do governo de Bolsonaro e a consolidação de uma corrente bolsonarista, especialmente em nossa cidade que se mostra tão conservadora e até (infelizmente) reacionária. Já escrevi sobre isso e reitero: ou nos unimos a favor da democracia ou seremos engolidos por esse Leviatã autoritário.

Por outro lado, começamos a ver o governo Lula em ação e já estamos sentindo um pouco de como será a atuação do petista ocupando pela terceira vez a presidência.

E espero que em 2023 haja mais esperança e otimismo nas pessoas. Não podemos ceder à tristeza e nem ao desânimo. Muitos que não votaram em Lula carregam ainda uma mágoa tremenda: acreditavam na vitória esmagadora, acachapante, mas a realidade se mostrou outra e alguns ainda não a aceitam. E isso é estranho, pode beirar à loucura e um fanatismo que não é nada salutar.

União. Concórdia. Hoje essas palavras soam apenas como desejos distantes num mundo de guerra, onde ainda permitimos que a África fique do jeito que está, que muitos morram de fome, sem remédio, comida. Onde pessoas pretensamente esclarecidas se negam a vacinar seus rebentos (lá ou cá).

Bom, na minha vida sou grato: meus pais estão bem de saúde, meu sobrinho cada dia maior e meus afilhados sempre lindos e espertos. Os amigos perto, os poucos inimigos também.

Novos caminhos profissionais me aguardam ano que vem. Infelizmente, a docência não é valorizada. A educação vem sendo tratada como um produto onde o cliente (os pais dos alunos) tem sempre razão. E nessa toada, o caminho para a educação se torna mais e mais estreito. Um puro e simples comércio.

Mas não vamos desanimar. Não podemos. Não faz parte do que somos e nem do que precisamos fazer nessa vida.

Sempre que tendo a me entristecer, lembro dos versos de Cervantes colocados na boca de Don Quixote:

"Sonhar o sonho impossível,

Sofrer a angústia implacável,

Pisar onde os bravos não ousam,

Reparar o mal irreparável,

Amar um amor casto à distância,

Enfrentar o inimigo invencível,

Tentar quando as forças se esvaem,

Alcançar a estrela inatingível:

Essa é a minha busca"

Termino esse ano com um desejo: que possamos nos reconciliar com quem pensa diferente e viver de forma pacífica. E lembro, para finalizar, da oração atribuída a São Francisco de Assis:

"Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz

Onde houver ódio, que eu leve o amor

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão

Onde houver discórdia, que eu leve a união

Onde houver dúvida, que eu leve a fé

Onde houver erro, que eu leve a verdade

Onde houver desespero, que eu leve a esperança

Onde houver tristeza, que eu leve alegria

Onde houver trevas, que eu leve a luz

Ó, Mestre, fazei que eu procure mais

Consolar do que ser consolado

Compreender que ser compreendido

Amar que ser amado

Pois é dando que se recebe

É perdoando que se é perdoado

E é morrendo que se vive para a vida eterna"

Tenham todos um bom fim de 2022 e um ótimo 2023. São os meus votos.

Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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