2022 deve ter sido para todos um ano de aprendizados e grandes obstáculos.
Bom, ao menos para mim foi. Desde problemas de saúde de familiares mais próximos a questões financeiras e dificuldades no mundo do trabalho, muitas lições, muitas ilusões, desilusões, reconstruções.
No âmbito político testemunhamos, ao mesmo tempo, o último ano do governo de Bolsonaro e a consolidação de uma corrente bolsonarista, especialmente em nossa cidade que se mostra tão conservadora e até (infelizmente) reacionária. Já escrevi sobre isso e reitero: ou nos unimos a favor da democracia ou seremos engolidos por esse Leviatã autoritário.
Por outro lado, começamos a ver o governo Lula em ação e já estamos sentindo um pouco de como será a atuação do petista ocupando pela terceira vez a presidência.
E espero que em 2023 haja mais esperança e otimismo nas pessoas. Não podemos ceder à tristeza e nem ao desânimo. Muitos que não votaram em Lula carregam ainda uma mágoa tremenda: acreditavam na vitória esmagadora, acachapante, mas a realidade se mostrou outra e alguns ainda não a aceitam. E isso é estranho, pode beirar à loucura e um fanatismo que não é nada salutar.
União. Concórdia. Hoje essas palavras soam apenas como desejos distantes num mundo de guerra, onde ainda permitimos que a África fique do jeito que está, que muitos morram de fome, sem remédio, comida. Onde pessoas pretensamente esclarecidas se negam a vacinar seus rebentos (lá ou cá).
Bom, na minha vida sou grato: meus pais estão bem de saúde, meu sobrinho cada dia maior e meus afilhados sempre lindos e espertos. Os amigos perto, os poucos inimigos também.
Novos caminhos profissionais me aguardam ano que vem. Infelizmente, a docência não é valorizada. A educação vem sendo tratada como um produto onde o cliente (os pais dos alunos) tem sempre razão. E nessa toada, o caminho para a educação se torna mais e mais estreito. Um puro e simples comércio.
Mas não vamos desanimar. Não podemos. Não faz parte do que somos e nem do que precisamos fazer nessa vida.
Sempre que tendo a me entristecer, lembro dos versos de Cervantes colocados na boca de Don Quixote:
"Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca"
Termino esse ano com um desejo: que possamos nos reconciliar com quem pensa diferente e viver de forma pacífica. E lembro, para finalizar, da oração atribuída a São Francisco de Assis:
"Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz
Ó, Mestre, fazei que eu procure mais
Consolar do que ser consolado
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive para a vida eterna"
Tenham todos um bom fim de 2022 e um ótimo 2023. São os meus votos.
Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)