O mercado de ilícitos em São Paulo

20/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A divulgação dos dados atualizados do Anuário de Mercados Ilícitos Transnacionais em São Paulo, elaborado pela Fiesp, dimensionou o tamanho de um grave problema: redes criminosas movimentaram R$ 113 bilhões ilicitamente no estado, entre 2017 e o primeiro semestre de 2022. O relatório considera furtos, roubos, produtos importados ilegalmente ou pirateados, além de contrabando.

Referência mundial quando o assunto é a evolução e os impactos da atividade criminal sobre o setor produtivo brasileiro, o Anuário é pioneiro por apresentar em números e índices o resultado da ação de criminosos no estado. O levantamento mostrou que a movimentação anual no mercado ilícito em 2021 chegou a R$ 24 bilhões e deverá ficar entre R$ 25 e R$ 26 bilhões este ano. Para efeito de comparação, o número é semelhante ao orçamento da Segurança Pública do estado em 2023, que deve ser em torno de R$ 27 bilhões, o maior da história.

Isso significa que uma fatia significativa da economia paulista está nas mãos do crime. O prejuízo é de todos. Para citar algumas consequências: a sociedade fica exposta à violência; milhões de reais em impostos que poderiam ser investidos em saúde e educação deixam de ser arrecadados; e os setores produtivos enfrentam um concorrente em condições absolutamente desiguais. Afinal, como um empresário, que produz, gera empregos e paga tributos pode disputar com a ilegalidade?

O impacto não se restringe à indústria de transformação, mas atinge uma vasta gama de setores, inclusive medicamentos e produtos de higiene falsificados, que colocam em risco a saúde da população quando são colocados à venda. O Anuário considerou as atividades ilícitas em segmentos como eletrônicos, vestuário, tabaco, automotivo, alimentos, químicos, brinquedos, além de higiene e medicamentos.

O Anuário indica que o mercado ilícito automotivo e de eletrônicos são, sozinhos, responsáveis por mais de 37% da violência criminal do Estado. Isto é, de cada 10 crimes violentos (roubo à mão armada, homicídio, latrocínio, entre outros), aproximadamente 3 acontecem em razão roubo de carga de eletrônicos, de carro ou de peças de carros.

Um evento com especialistas realizado na Fiesp indicou alguns caminhos a serem tomados para coibir a atuação dessas redes criminosas. O controle logístico é considerado essencial, pois encarece o custo do transporte da mercadoria ilícita nas entradas, saídas e rotas de circulação no país, especialmente via portos e rodovias.

É preciso especial atenção com as fronteiras, pois, além de drogas, também produtos falsificados, tais como vestuário, cigarros e eletroeletrônicos chegam de diferentes partes da América do Sul. Trata-se de um mercado lucrativo para milícias e criminosos.

Da mesma maneira, deve-se evitar que o dinheiro obtido de forma ilícita seja regularizado (ao ser convertido em bens e investimentos, por exemplo). Isso só é possível com investigação efetiva e bloqueios, secando a fonte de recursos dos criminosos.

Em suma, é preciso uma abordagem multissetorial, envolvendo vários entes da Federação, para enfrentar este problema. Ainda assim, com o início de uma nova administração no estado de São Paulo, o Anuário de Mercados Ilícitos Transnacionais será uma poderosa ferramenta nas mãos da equipe do novo governador, Tarcísio de Freitas, para coibir a atuação dessas redes criminosas.

Vandemir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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