Antigamente era melhor?

18/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

O Brasil perdeu Gal Costa, logo em seguida Erasmo Carlos. Eram figuras que fizeram parte de nossa história. Quem é que não se lembra de "Baby" e de "Devolva". Aquela música dominava as rádios e, depois, a TV: "O retrato que te dei, se ainda tens não sei, mas se tiver, devolva-me".

A onda dos "Festivais" de música despertava a atenção da juventude, que acorria aos auditórios ou acompanhava de casa, com torcida organizada. Jundiaí também teve seus festivais. Aconteciam no antigo Instituto Experimental de Educação, simplesmente chamado "o Instituto". O melhor colégio que já se teve, sob a competente direção do Professor Nassib Cury. Hoje é Escola Estadual de Segundo Grau "Dom Gabriel Paulino Bueno Couto", o santo primeiro bispo de Jundiaí, cujo processo de canonização caminha no ritmo da Justiça brasileira.

Mas houve festivais mais concorridos. Aqueles realizados no Clube Jundiaiense, que reunia os melhores talentos da mocidade dourada, a mais devotada às artes musicais. Havia um fervoroso empenho na realização dos festivais e dos shows. Um deles ficou na História. Chamava-se "Pobre Menina Rica". Os ensaios eram levados a sério. O Presidente do Clube, à altura, era o Oswaldão. O d<ctk:10>entista Oswaldo de Almeida Leite, boa-praça, amigo dos jovens. Pensava corretamente: é melhor tê-los aqui conosco, exercendo as qualidades de que dispunham, do que vê-los dispersad<ctk:-10>os e longe do Clube.

A participação era de todos os que tocavam violão e cantavam. Os melhores eram o Delega, Antonio Edmundo Fraga de Novaes, o Giba, Gilberto Fraga de Novaes, irmãos e filhos do Delegado de Polícia João Moreira de Novaes. Flavinho Della Serra, Luiz Antonio Pedroso Rafael. Havia um conjunto que fez sucesso à época, formado por Melinho, o Antonio Carlos Oliveira Mello, Joel Denardi, Wagner Moraes Oliveira, Ewerton Pernambuco. Eles se chamaram "All Anthonys" durante um período, mas mudaram de nome várias vezes.

Todos eram chamados a participar e cada um fazia o que sabia fazer de melhor: cantar no coral, dançar twist ou hali-gali, uma dança romena que parecia mais uma ginástica. Quando era para dançar rock, chamava-se a dupla Pituca e Picoco, os irmãos Bárbaro. Mas também o Taio, Luiz Carlos Santos. Nessa noite em que se cuidou de explorar o tema "Pobre Menina Rica", foram chamados muitos dos jovens habitués do Clube Jundiaiense: Regina Basile Ferraz, Regina Toledo, Lúcia D'Egmont, Heloisa Basile, os irmãos Silveira todos: Terezinha, Cristina, Suzana e Márcio. Acho que Danilo e Tarcísio não participaram. Influência marcante nessa fase, exerceu o Mano, Eduardo de Souza Filho. Ele havia morado na Suécia e era considerado o suprassumo da inteligência. Cheio de ideias, arrojado e pioneiro. Pintava, fazia esculturas e estimulava a criatividade. Também dedilhava o violão o Sérgio Luis Sampaio Teixeira, que recentemente também partiu. Este percurso breve deve ter deixado de lado muita gente. Seria preciso sentar junto com os remanescentes, para lembrar mais e com exatidão. Não se deve esquecer quem fez parte de nossa vida. 

Quantos já nos deixaram! Hoje não se fala em concurso de música, em teatro amador – Jundiaí também brilhou nessa área, mas muito antes: nas décadas de trinta e quarenta do século 20 – e cada qual com seu celular ou smartphone, a companhia preferida dos jovens do século 21.

O saudosismo é um exercício de velho. Mas o velho é que tem saudades. O moço ainda não sabe o que é isso.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

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