Sociedade civil é a salvaguarda

04/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Quantas vezes será preciso repetir que o maior perigo que ronda a humanidade é o aquecimento global? A ciência, tão menosprezada em países periféricos, já comprovou à saciedade que o desmatamento é a maior causa de emissão dos venenosos gases causadores do efeito estufa. Não é a Terra que vai acabar! Ela continuará a existir. Mas como planeta sem vida. Um planeta morto. Porque a espécie que nela viveu durante milênios escolheu o suicídio.

O Brasil, que já teve tudo para ser o líder mundial na tutela da cobertura vegetal com que foi generosamente aquinhoado, preferiu tornar-se "pária qmbiental", situação que perdura até a COP-27, onde recebeu um troféu à semelhança do "ignóbil": uma censura por sua conduta frontalmente contra a natureza.

A situação é ainda mais grave quando se percebe que a maior parte da população não tem noção do perigo e acredita nas crendices inimagináveis no século 21: que a Terra é plana e não esférica; que a defesa da floresta é uma conspiração dos países ricos, que já destruíram as deles e não querem que o Brasil extermine as suas; que a questão é de "soberania", essa ideia emocional que só tem servido para exacerbar fanatismos e nutrir a ignorância. Mas o risco brasileiro é ainda mais trágico porque, ao lado da estupidez, existe a ganância. Ou, para rimar, estupidez mais cupidez.

Quem quer dinheiro acima de tudo, sem se preocupar com o amanhã, pensa que árvore convertida em carvão é melhor do que árvore em pé. Alega que é necessário exterminar mais floresta para plantar soja ou fazer pasto. Ou seja: as fases já comprovadas de fabricação de desertos.

Por isso é que a bancada antiambiental na Câmara dos Deputados, a partir de 2023, terá 41% das cadeiras. Quase metade é de inimigos da natureza. O Congresso é mais antiecológico do que já era. E olha que o time contra o verde conseguiu muito êxito: flexibilização do licenciamento ambiental, importação de herbicidas proibidos em países civilizados, um tratamento perverso aos defensores do ambiente, um discurso irado em favor de um agronegócio que não respeita o ecossistema.

As legendas mais resistentes à tutela ambiental conseguiram exatamente 41,5% dos votos na Câmara. Já os partidos que concentram votos ambientalistas só elegeram 137, ou seja: 26,7%.

Verdade que a sinalização do Executivo, aplaudido em pé na COP-27 no Egito, é a de que o Brasil voltará a ser protagonista numa área que hostilizou nos últimos quatro anos. Mas é preciso estar atento a essa verdade apurada pelo painel Farol Verde do Instituto Democracia e Sustentabilidade.

Por isso é que devem ser objeto de atenção e de acompanhamento, todos os projetos em curso no Parlamento Federal, sem prejuízo de que isso se faça também no Estado, junto à Assembleia Legislativa e em cada município, junto às Câmaras Municipais.

Os professores, os educadores, os influencers, a juventude que sabe da gravidade da situação e que será aquela que mais sofrerá diante da nefasta atuação e omissão dos mais velhos, devem fazer valer o seu status civitatis. Sempre lembrar que governo é servo do povo. Governo é pago pelo povo. Para defender o povo, não para trazer ameaças e contribuir para o caos e para uma "solução final" que não está nos planos de qualquer humano.

Vamos fiscalizar nossos representantes. A sociedade civil, se quiser, pode impedir que males venham a ser perpetrados por aqueles eleitos pelo povo e pagos pelo povo para fazer o bem. Ou, pelo menos, para não fazer o mal.

José Renato Nalini é reitor e presidente da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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