Autenticidade nas relações: será tão difícil?

03/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Certa vez, em uma relação de trabalho, um colega tentava subtrair de mim informações sobre um terceiro colega, com quem tivera uma desavença pesada. Cortei sua intenção ao meio respondendo apenas: "...meu caro, se não levo, também não trago...".

Há muitos anos aprendi que este processo, o de gastar energia criticando pessoas na ausência delas e disseminar maledicência e relações tóxicas, baseia-se em comportamentos há bastante tempo estudados por especialistas. Stephen Karpman, um deles, publicou em 1968 um estudo chamado triângulo do drama.

Nessa dinâmica aparecem três papéis que se triangulam: vítimas, algozes e salvadores. Ao falar de Maria para José e não resolver suas diferenças com ela diretamente, você, João, está exercendo o papel da vítima que elegeu Maria como algoz e recorreu a José como salvador.

E, acreditem, Josés, os salvadores, muitas vezes, ao invés de incentivarem o diálogo aberto e transparente entre vítimas e seus algozes, reforçam comportamentos igualmente nocivos às relações, alimentando seu próprio ego.

Logicamente não estou falando de relações saudáveis e de confiança. Aquelas a quem recorremos para nos ouvir quando nos sentimos perdidos e precisamos de ajuda. Sob essa perspectiva, qual vertente do triângulo de Karpman é você na vida? Pausa aqui.

Escrevi o trecho acima há pouco mais de um ano, para minha página em uma rede social com foco em contatos profissionais e demais, mas no dia a dia das relações, não apenas de trabalho como pessoais, familiares e amorosas inclusive, ele permanece muito atual.

A reflexão proposta aqui é exatamente a respeito de limites saudáveis nas relações e como identificar a linha de passe entre o que é um laço de confiança e o que se torna toxidade e manipulação.

Como tudo o que envolve a complexidade humana, o processo de relacionar-se é completamente desafiador para a maioria das pessoas, pois envolve possuir habilidades para as quais a maioria se auto declara sentir extrema dificuldade.

O convite que faço é: quanto, dentro de cada um de nós, habita o secreto desejo de que o outro seja como nós idealizamos?

Quanto, em cada um de nós, habita o secreto desejo de que só valha aquilo que nós acreditamos como concepção de mundo ideal nos relacionamentos?

Gosto sempre de lembrar que, colocar limites nas relações que consideramos não nutritivas para nós e que de alguma maneira nos trazem sensação de desconforto, não significa sair dizendo não indiscriminadamente para tudo e todos.

Limites nas relações fala de um lugar complexo, onde teremos que acessar a coragem de dizer "não, não concordo. Não, não aceito. Não, por favor, daqui não ultrapasse!...".

É um processo e não uma decisão disruptiva e momentânea. O sistema corpo-mente depende diretamente de um trabalho onde, sobretudo com o corpo, demanda um trabalho muito sutil e paciente.

Perceber "como" sentimos qualquer dos processos nas relações, seja naquelas extremamente desafiadoras como a descrita no primeiro trecho deste artigo e que exigem de nós habilidades e qualidades inatas.

E você, novamente: quanto está disposta e disposto a se auto trabalhar para ser um agente de mudança pela saudabilidade nas relações?

Márcia Pires é sexóloga e gestora de RH (piresmarcia@msn.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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