Sobre o dia que eu aprendi a nadar

02/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Quando eu tinha por volta dos meus sete, oito anos eu me lembro de um dia que estava com meu pai no clube que éramos sócios. Eu ficava admirando ele nadando e fazendo graça na piscina, e pensando que um dia eu iria querer nadar igual a ele.

Meu pai que sempre foi muito atento, logo percebeu a forma como eu olhava pra ele, veio até a borda da piscina e me chamou:

"Filho, quer aprender a nadar?"

"Não pai, acho que não consigo ainda, deixa pra quando eu estiver maior."

"Por que esperar meu filho? Pula na água que o pai te ensina."

Meu pai sempre foi pra mim referência de sensatez e inteligência. E por isso mesmo eu me senti em um conflito interno, desses que a gente leva pra terapia depois de grande. Por um lado, eu sabia que meu pai jamais me faria mal ou mentiria pra mim e se ele falou que iria me ensinar provavelmente eu sairia daquela piscina nadando igual ao Nemo. Porém eu olhava aquela piscina enorme e pensava que aquilo não era pra mim, que eu era pequeno pra toda aquela imensidão de água.

Fiquei ali na borda ouvindo o chamado do meu pai e o medo que acelerava o meu coração fazendo com que minha mente desse aos músculos o comando de recuar. Ali fiquei por um tempo que não sei definir, mas que na minha mente foi o suficiente pra eu perceber o quanto as inseguranças muitas vezes nos paralisam, até que em um salto de coragem, coragem essa que eu não sei onde fui capaz de extrair, eu pulei, meu pai me segurou, me mostrou como boiar, como bater os braços e as pernas... ao seu modo ele me ensinou a nadar.

Agora grande, me recordo com saudade. Esse último ano foi pra mim foi um ano de mudanças e decisões. Acho que nunca planejei tanto a minha vida, e acho que de tanto planejar foi o ano que mais me surpreendeu. E olha que o ano nem acabou ainda.

Entre tantas coisas que se concretizaram e outras tantas que viraram frustrações, ficou o aprendizado.

Entre tantas mudanças e novas esperanças ela apareceu na minha vida, assim do nada, de supetão, pulando o muro, fazendo festa.

Sabe quando a imagem de uma pessoa projeta um sorriso no seu rosto e um calor no coração? Pois é ela. Ela que me ensinou que é possível juntar leveza e intensidade na mesma frase e no mesmo momento.

Quando a gente passa dos trinta existem tantas ressalvas, tantos medos, tantas questões (haja terapia!) que quando a gente encontra alguém que o santo bate, que a química fecha e o corpo encaixa o cérebro até manda o coração ficar com o pé atras, ficar ali na borda da piscina da vida tomando coragem pra pular.

Eu com o passar dos anos fui criando alguns filtros, mas ela é fluida nas minhas emoções e passou por todos, encheu a piscina dos meus desejos e eu aqui na borda...

Me lembrei de quando eu aprendi a nadar, do sentimento que tomou conta de mim e me fez pular.

Olhei aqueles olhos penetrantes, parecendo duas jabuticabas, que com os cabelos vermelhos parecia a Florzinha das meninas superpoderosas. Foi quando decidi nadar, me aprofundar em suas águas, seus rios, seus mares.

E em meio a esse mar de desejos eu sorri agradecido, por ter tido a sorte de ter um pai como o meu que me ensinou a nadar.

Jefferson Ribeiro é escritor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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