Não faltou aviso

24/11/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Encerra-se a COP-27 no Egito e muita gente deixou de prestar atenção ao brado candente do Secretário-Geral da ONU, o português António Guterres. Ele foi muito claro: "O mundo está numa estrada para o inferno climático, e com o pé ainda no acelerador".

Vinte e sete reuniões de cúpula, Acordo de Paris, Protocolo de Kyoto e tudo continua na mesma: combustíveis fósseis à vontade, desmatamento acelerado, incêndios criminosos, ninguém cuida de estancar o extermínio e menos ainda de reflorestar as chagas abertas na Terra pela crueldade do bicho-homem.

Prestem atenção naquilo que Guterres falou: "A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer". O mundo está cada vez mais próximo ao ponto de não retorno: "Ou é um pacto de solidariedade climática ou um pacto de suicídio coletivo".

Será que todas as pessoas têm noção de que estão aderindo ao pacto do suicídio coletivo? Algo que, há algumas décadas, parecia longínquo e remoto. Hoje cada vez mais próximo.

Na mesma COP, no estande do Paquistão, havia uma faixa: "O que acontece no Paquistão não vai ficar no Paquistão". É claro: vai acontecer em todo o mundo e aqui também.

O que é que o cidadão comum pode fazer?

Primeiro, não perder a capacidade de se indignar. Exigir do governo, que é sustentado pelo povo, tome atitudes responsáveis. A partir do município. Uma cidade inteligente precisa pensar em se livrar do consumo exagerado de combustíveis fósseis. Trocar a iluminação por LED. Cuidar da água. Redescobrir as nascentes que foram eliminadas pelo mau uso da terra. Recompor as matas ciliares. Reflorestar. O Brasil precisa de um bilhão de árvores: esse o número do extermínio, acelerado nos anos recentes.

Precisa também pensar em Comitês de gerenciamento de crises. Verificar as moradias precárias, cuidar de persistente remoção da população vulnerável que ocupa áreas impróprias. Multiplicar as áreas verdes. Ocupar todos os espaços ociosos com vegetação. Incentivar o cultivo do verde, incutindo na população um verdadeiro catecismo ecológico. Investir na educação ambiental, que não é a mera inclusão de uma disciplina em currículo do ensino fundamental, médio e universitário. Deve ser uma preocupação permanente: formar consciência ecológica em todos os níveis, a partir das crianças, mas prosseguir em todas as idades. Por meio de cursos, de seminários, congressos, eventos vários. Mas ainda trazer filmes, documentários, peças de teatro e livros que orientem as pessoas a serem cuidadosas em relação à natureza.

Toda cidade tem de ter um plano de ação para um acontecimento que poderia parecer improvável, mas que pode acontecer. A perigosa redução dos reservatórios, com a probabilidade nefasta de desabastecimento de água. Os deslizamentos nas ocupações em plano inclinado impróprio à edificação de moradia. Desmatamentos em áreas públicas e em áreas particulares. Cada árvore que desaparece é um pouco de vida a menos para os viventes e para as futuras gerações.

Um sistema local de avisos meteorológicos ajuda a evitar desgraças. É obrigação do município zelar pela segurança climática da população. Prevenir é melhor do que remediar.

Enfim, não faltam avisos. Quem tiver ouvidos, ouça. Quem tiver juízo, faça o que é possível. Ao menos a conversão pessoal já retira do mundo um ser insensível e cruel, que não percebe que sem natureza protegida, não há vida possível.

José Renato Nalini é reitor e Presidente da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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