Luiz Antonio Fleury Filho (1949-2022)

20/11/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Sinto profundamente a morte de Luiz Antonio Fleury Filho. Minha amizade com ele teve início na década de 70, quando ambos éramos Promotores Públicos Substitutos e fomos convocados a atuar na chamada "Equipe do Assalto". Preocupado com o crescimento dos delitos contra o patrimônio praticados com violência contra a pessoa, o Ministério Público Paulista escolheu oito promotores de elite, auxiliados por oito jovens substitutos, iniciantes no Parquet.

Fleury era um deles, eu era outro. Kioitsi Chicuta, Paulo Marcos Eduardo Reali Fernandes Nunes, Manoel René Nunes, Mauro Macedo Rocha e mais um outro. A memória já falha para nomes, embora a imagem visual esteja presente.

Trabalhávamos numa sala única, no Forum João Mendes, 16º andar. Tornamo-nos íntimos. Fleury me levou, quanta vez, em seu Volks sedan, até a rodoviária, hoje desalojada. Ficava próxima à Estação da Luz.

Estava prestes a se casar com a Ika, confidenciava-me suas preocupações, narrava episódios de um namoro e noivado que logo se converteu em casamento. Às vésperas do matrimônio, Ika perdeu o avô, que a criara. A cerimônia teve muito de tristeza, embora o jovem casal estivesse apaixonado.

Quando deixei o Ministério Público para prestar concurso de ingresso à Magistratura, a convivência naturalmente sofreu redução. Mas continuamos próximos. Ika e Fleury foram ao meu casamento em 1976. Ela descobriu, junto à família de minha mulher, Maria Luíza, algum parentesco.

Frequentamo-nos naqueles anos iniciais de vida de casados. Visitávamo-nos quando nasciam nossos filhos. Já morando em Jundiaí, quando do nascimento de minha filha Ana Beatriz, Ika esqueceu os seus óculos, que devolvi com presteza, pois era o único. O casal morava na Alameda Jaú, àquela altura.

Fleury se destacou no Ministério Público, fez carreira no associativismo e na política. Secretário da Segurança Pública de Orestes Quércia, conseguiu a unção para sucedê-lo, quando - aparentemente - o candidato do governador era o Secretário da Fazenda, José Machado de Campos Filho.

Valendo-me de minha amizade com o Governador, levei várias postulações do Judiciário ao governo. Ali tínhamos a figura magistral de Cláudio Ferraz de Alvarenga, mestre de todos nós. Recebia fidalgamente o emissário da Justiça. Fazia questão de chamar o Governador, dizendo: "Governador, venha ver quem é que a Justiça enviou como representante!".

Na condição de amigo, fiz várias sugestões ao Governador Fleury. Também à primeira-dama, Ika, em seu gabinete no Parque da Água Branca, assessorada pelo inolvidável Desembargador Geraldo de Faria Lemos Pinheiro, seu tio e pela queridíssima Procuradora de Justiça Maria Cláudia Souza Foz, minha comadre.

Assim passaram-se os anos. Os filhos crescendo, Fleury orgulhoso de um deles, que escreve e tem talento. Nos finais de ano, Ika e ele celebram uma missa em sua acolhedora residência no Pacaembu. Participei de vários desses encontros.

Luiz Antonio Fleury Filho conservou-se a mesma pessoa lhana, polida, simpática, amável e pronta a ouvir, mais do que falar. Sabia que ele estava a enfrentar enfermidade. Rezei por ele, porque sou criatura que acredita na oração e cada vez mais recorre à Providência, pois os tempos não andam fáceis. Fleury tem o seu nome e legado inscrito na História. Partiu precocemente e deixa saudades imensas.

José Renato Nalini é reitor e Presidente da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

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