Praças Velhas X Praças Novas

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Caminhando pela Praça da Bandeira, no Centro de Jundiaí, percebi que as passagens por ela estão com os pisos despregando, são de pedras portuguesas e jamais foram conservadas. Além disso, o jardim não é cuidado. Tive contato com os serviços públicos, que me deram respostas garantindo que as plantas eram resistentes e não precisavam de rega. Não era verdade, plantas precisam de cuidado e de água.

Na Praça da Bandeira sabe-se que são empresas terceirizadas que fazem sua manutenção, o que significa que não há jardineiros determinados que cuidam do lugar, o que é notório, por que não vemos um jardineiro cuidando do jardim no dia a dia. Infelizmente, isso não cria vínculo. É temerário alterar o projeto da Praça da Bandeira, que é bom, e deveria ser restaurado, com as correções de tornar as passagens marcadas pelos pedestres com pisos e assim consolidá-las atendendo a demanda criada pelo uso.

Em pesquisa no site da prefeitura percebemos que não há informações de acesso aos serviços e projetos das praças. Acontece que está aí uma óbvia demonstração de desinteresse na conservação das praças, embora a população peça que sejam mantidas em ordem e policiadas.

Quem me ajudou no acesso aos projetos foi a Gestão de Planejamento e Meio Ambiente, que indicou projetos em curso no Centro e em grande extensão que vem sendo apresentados aos comerciantes que, ainda resistentes, analisam e debatem o tema. Para os arquitetos da Gestão de Projetos da prefeitura:

"Considerando que se trata de um bairro com grande oferta de infraestrutura urbana, sua vocação e potencial é de um lugar de vida urbana pujante, hoje subutilizado com baixa densidade populacional, comércios que funcionam em horário estritamente comercial (9h às 18h) e pouco tempo de permanência e convivência entre as pessoas no espaço público."

O que se nota nesse projeto é que se faz uma grande mudança em desenhos de pisos e em uma fonte que irá alterar a Praça da Matriz. Na lista das praças que serão reformadas não se encontra a Praça da Bandeira. São essas as praças com projeto de reforma: A Praça D. Pedro II (das Rosas), Tibúrcio Estevam Siqueira, São Bento, Gov. Pedro de Toledo e Mal. Floriano Peixoto (Matriz) e Rui Barbosa.

De qualquer maneira, a dificuldade de acesso aos projetos cria uma desagradável sensação de vazio e de isolamento do departamento de projeto. Se houver divulgação será sempre na época da implantação, quando terá ampla visibilidade. Aí não terá mais jeito. Se foram consultados os comerciantes, os usuários não foram, pelo menos não tenho notícia. Para se obter dados para um projeto, em consulta com a população, tem que ser apresentado no Centro, em local público pra que se possa ver, entender e opinar.

Lembro aqui um interesse manifestado nas redes sociais em trazer de volta a fonte, dos anos 50. Sabemos que refazer um bem demolido é um falso histórico. Não é possível replicar. Mas justificar a reforma da praça pelo desejo de ter fontes ali não é suficiente para restaurá-la. O que espero é que projetos de restruturação alterem minimamente o que está consagrado, correções são importantes.

A palavra restauração/conservação não existe no vocabulário, dos tratamentos em praças do povo. Aí mora um perigo democrático, ninguém pode alterar a praça na surdina. Isso não pode acontecer. Dificultar o acesso a projetos pode ser uma maneira de garantir a execução de reforma, mesmo que não atenda o interesse do povo. Falo povo porque a praça é do povo como o céu é do avião. Se o povo faz mal uso, que se restaure sistematicamente. Como é a política do Metrô, qualquer vandalismo precisa ser corrigido imediatamente, porque é o ponto de partida para a completa deterioração.

Leis de proteção das praças do Centro existem, mas o tombamento dessas praças se torna urgente, só assim se garantirá que elas não sejam alteradas a cada administração, como aconteceu por todo o século 20.

Eduardo Pereira é arquiteto (edupereiradesign@gmail.com)

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