Tom Zé na Academia

17/11/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Hoje, 17 de novembro de 2022, é a data em que Tom Zé assumirá a Cadeira 33 da Academia Paulista de Letras, sucedendo ao queridíssimo Jô Soares. Será recepcionado por Júlio Medaglia, o maestro da Tropicália, que conhece o novo acadêmico há mais de cinquenta anos.

Tom Zé é baiano de Irará. Em 1962, classificou-se em primeiro lugar no vestibular da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia. Em 1964, obteve bolsa de estudos na mesma Universidade, para o curso Superior, como prêmio pela primeira colocação obtida nos exames finais do Curso Intermediário.

Fez inúmeros cursos, dentre os quais o de História da Música ministrado pelo Professor H.J. Koellreutter, violoncelo a cargo dos professores Walter Smetak e Piero Bastianelli, composição e estruturação do Professor Ernst Widmer, Contraponto ensinado pelo Professor Yulo Brandão, Harmonia com Professor Jamary Oliveira, aprendeu piano com a Professora Ainda Zolinger e Violão com a professora Edy Cajueiro.

Em 1966 torna-se membro fundador do Grupo de Compositores da Bahia, de música erudita e participa no espetáculo teatral "Arena Canta Bahia", em São Paulo. Foi em 1968 que compôs "São São Paulo, Meu Amor", a música vencedora do Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Nesse festival arrebatou a "Viola de Ouro" e o "Sabiá de Prata". Ainda ganhou o quarto lugar com a canção "2001", em parceria com a Rita Lee, considerada também a melhor letra. Gravou o LP "Tropicália", com Gilberto Gil, Caetano Veloso, a nossa querida Gal Costa, precocemente falecida estes dias, além dos Mutantes. Nunca mais parou de gravar: "Tom Zé", pela gravadora Rozemblit, "O Som Livre de Tom Zé e Gal Costa", no Teatro de Arena em SP e Teatro de Bolso do Rio. E por aí foi: fundou a Escola Popular "Sofisti-Balacobaco-Muito Som e Pouco Papo" em São Paulo, participou como ator e cantor da peça "Rocky Horror show", dirigida por Rubens Correia, trabalhou na DPZ, ao lado de Washington Olivetto, Roberto Duailibi, F. Petit e Zaragoza.

Tom Zé escolheu São Paulo para morar e aqui está há mais de meio século. Em 1990 lançou o disco "O melhor de Tom Zé", ganhou o prêmio de criatividade em Telluride, no Colorado, no Festival "Composer to Composer", participou, como ator, do filme "Sábado", de Ugo Giorgetti. Apresenta-se em festivais no Canadá, nos Estados Unidos, e faz concerto no MOMA, o emblemático Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

Ganha também a Europa, apresentando-se em Amsterdã, Berlim, Shwaz na Áustria, Berna, Paris, Bolzano, Verona, Innsbruck, Salzburg, Munique, Lausanne, Bruxelas, Colônia, Hamburgo e muitas outras cidades.

O livro "Tom Zé – Tropicalista Lenta Luta" é  um delicioso retrospecto de sua vida e de sua carreira. Tem quase todas as letras das músicas que compôs e que ainda interpreta em shows concorridíssimos. Numa entrevista concedida a Luiz Tatit e Arthur Nestrovski, aborda-se a característica pouco comum na música popular, o contraponto. E Tom Zé diz que podia mostrar duas gavetas, cheias de fita-cassete. "Essa gaveta é uma espécie de linha de montagem". Fala que a máquina "é um censor estético do sistema" e confessa o seu amor por "aquele negócio matemático do contraponto".

Júlio Medaglia dirá que considera Tom Zé o mais criativo dos tropicalistas. E o mais paulista! Escolheu São Paulo para viver com sua Neusa, musa inspiradora. E merece estar entre os imortais paulistas. Jô Soares está feliz com o seu sucessor! Criatividade e irreverência continuam a iluminar o Largo do Arouche.

José Renato Nalini é reitor e Presidente da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br) 

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