A potência do agronegócio

01/11/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Uma nova safra recorde de grãos está a caminho. A estimativa divulgada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o período 2022/2023 alcança 312,4 milhões de toneladas, 41,5 milhões de toneladas a mais que a colheita anterior.

A área destinada ao plantio também deve aumentar, mas não na mesma proporção. O levantamento estima que no ciclo 2022/23 a área plantada será 2,9% maior que no anterior, com o total de 76,6 milhões de hectares, enquanto a produção será 15,3% superior à safra passada, demonstrando ganho de produtividade.

A força do agronegócio brasileiro é inquestionável. Representa 27% do Produto Interno Bruto (PIB), considerada toda a cadeia, exporta 30% da produção e a balança comercial do setor cresceu 20% em 2021, na comparação com o ano anterior, com saldo positivo de US$ 105 bilhões.

Para as pessoas que orbitam em torno da agropecuária, que considera apenas as atividades no âmbito da propriedade rural, a realidade também é pujante. Entre 2019 e 2022, a renda real do setor subiu quase 30%, percentual muito superior aos dos outros segmentos da economia, de acordo com a consultoria LCA. Nos demais (excluindo administração pública, aluguel imputado e transação financeira), o percentual ficou em 3,8% nesses quatro anos, quase estagnação.

A LCA faz a ressalva de que este incrível salto na renda ocorreu em função de preços relativos muito favoráveis. É reflexo da forte alta das commodities agrícolas em dólares, bem como do real excessivamente depreciado desde meados de 2020 frente à moeda americana. Ainda assim, enquanto que para o agroprodutor o preço alto das commodities e o real desvalorizado são positivos, para o restante da população isso significa comida cara e inflação alta.

Na prática, estados que são potências do setor estão experimentando um avanço formidável. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul devem crescer mais de 5% este ano, enquanto a expectativa para o país é de 2,7%. Entre o segundo trimestre de 2022 e o mesmo período de 2021, a renda per capita cresceu mais de 10% nos principais estados produtores – o recordista é Tocantins, com 26,1%. A média nacional não deve passar de 2%.

Olhando em um prazo mais longo, a diferença é ainda maior. Em dez anos, o PIB per capita do Centro-Oeste cresceu mais de 10%, ante retração de 4,7% do Brasil em termos agregados, segundo a consultoria MB Associados.

O futuro promete prosperidade, mas também alguns desafios. O novo mandato concedido a Xi Jinping como líder máximo da China indica que a política de priorizar o consumo das famílias e, consequentemente, a alimentação, continuará. Isso favorece o agro brasileiro, grande exportador para o país asiático.

A China é hoje o principal mercado do agronegócio nacional. No ano passado, o Brasil exportou US$ 41 bilhões para o gigante asiático, um crescimento de 20,6% em relação a 2020, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Hoje, a China compra 70,2% do que o país exporta de soja, 47,7% de carne suína e 39,2% de carne bovina.

O principal desafio é a questão ambiental. A decisão da União Europeia de não importar produtos de áreas recentemente desmatadas (seja desmatamento legal ou ilegal) é um primeiro sinal. A medida está no âmbito do green deal, um conjunto de diretrizes lançado em 2020 para atingir a neutralidade climática até 2050. Foi aprovado no parlamento europeu em 2022 e sua redação final está em negociação.

O Brasil deve estar atento e preparar alternativas econômicas que garantam tanto a preservação ambiental quanto renda para os 20 milhões de habitantes da Amazônia Legal.<chs:><ctk:-25>

Vandemir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp

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