Em busca da produtividade perdida (2)

25/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

O artigo da semana passada examinou o declínio da produtividade na economia brasileira – com uma lupa sobre o setor industrial – e o impacto disso para o país, que perdeu a capacidade de crescer. Os caminhos para reverter esta trajetória e os meios para aumentar a produtividade da economia nacional serão explorados a seguir.

Um ponto crucial é a questão educacional. A má qualidade do ensino público brasileiro, onde estudam 80% das crianças e jovens, impõe um teto difícil de romper. Não surpreende que exista uma correlação direta entre a nota do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, em tradução livre, que é a principal avaliação de desempenho escolar), e a produtividade na indústria, como demonstra um estudo realizado por Fiesp/Ciesp. Quanto maior a nota na prova, maior a produtividade. O Brasil, infelizmente, está na lanterninha.

O investimento em educação leva mais tempo para dar frutos, mas coloca o país em outro patamar. São os trabalhadores qualificados que dão condições para que o país cresça de forma sustentada. Isso se tornou ainda mais urgente com a pandemia, que tanto prejudicou os estudantes, sobretudo da escola pública. É preciso que os governantes encarem o desafio de dar qualidade ao ensino da rede pública, sob pena de condenar não só o futuro desses jovens, como o do Brasil.

A curto prazo, enormes ganhos podem ser obtidos por meio de uma Reforma Tributária. Além da elevada carga – 33,9% do Produto Interno Bruto (PIB) –, o Brasil tem um complexo sistema de pagamento de impostos que drena recursos e tempo. Estudo elaborado por Fiesp e Ciesp mostra que a indústria gasta cerca de R$ 25,5 bilhões por ano apenas com burocracia de tributos. E dispende 2.354 horas/ano nesta função.

Para a indústria, uma reforma que dê racionalidade ao sistema e redistribua, de forma isonômica, a carga entre os diversos segmentos é essencial. Hoje, embora o segmento industrial responda por apenas 11% do PIB, tem uma participação de cerca de 30% na arrecadação tributária.

Fiesp e Ciesp defendem ainda a criação de um Imposto sobre Valor Adicionado (IVA), como existe em vários países do mundo, para simplificar o sistema. No início do próximo mandato presidencial, a energia que vem das urnas deve ser canalizada para a aprovação desta reforma.

Por fim, é preciso reindustrializar o país. O Brasil passou por uma rápida e precoce desindustrialização que impactou fortemente seu crescimento. Isso não ocorreu em países que atravessaram este processo, como Estados Unidos, Japão, França, entre outros, porque eles já possuíam setores de serviços com elevada produtividade – em boa medida porque eram economias com alta renda per capta. O Brasil é um país emergente, de renda média, que ainda não conseguiu fazer a transição para a renda alta.

Uma oportunidade se abre com a reorganização das cadeias globais de suprimentos, duramente afetadas pela pandemia. Por sua posição estratégica, o Brasil pode ser uma alternativa interessante para empresas globais que pretendem produzir no ocidente.

Para estar sintonizado com as demandas mundiais e se mostrar atraente, o país precisa de uma política industrial moderna, pautada nos princípios ESG (governança ambiental, social e corporativa), focada nos setores de média e alta tecnologia. Além de segurança jurídica e estabilidade institucional, obviamente.

Vandemir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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