Jundiaí teve um Marquês

23/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Outro dia comentei aqui o fato de termos tido um Marquês, o que não é muito conhecido pelos jundiaienses. A nobiliarquia brasileira foi transplantada de Portugal, onde a monarquia convivia com títulos e honrarias próprias à Corte.

Havia uma hierarquia nos títulos: os mais importantes eram os duques. Em seguida os marqueses, depois os condes, viscondes e barões. Os três primeiros eram considerados "Grandes do Império". A "grandeza" era inerente ao título. Já visconde e barão poderiam ser nominados "com grandeza" ou "sem grandeza". O significado da "grandeza" era a permissão de usar em seu brasão de armas a coroa do título imediatamente superior. Assim, o barão com grandeza poderia se utilizar em seu brasão a coroa de visconde. Conferiu-se "grandeza" a 135 barões e a 146 viscondes.

Pedro Primeiro "criou" 47 barões e uma baronesa, 47 viscondes, duas viscondessas, sete condes e uma condessa, 25 marqueses, duas marquesas, um duque e uma duquesa. O nosso Marquês de Jundiaí antes fora visconde do Rio Seco. Seu nome era Joaquim José de Azevedo e em 1826 ele foi titulado Marquês de Jundiaí. Fora tesoureiro da Casa Real e uma das mais proeminentes figuras da Corte de Dom João VI.

Casou-se com D. Maria Carlota Miliard, irlandesa, sogra de Luís do Rego, governador de Pernambuco. Dona Carlota faleceu em 1831 no Rio de Janeiro e o Marquês de Jundiaí se casou novamente com D. Mariana Pereira da Cunha, filha do Marquês de Inhambupe.

Descubro essas informações lendo o delicioso livro "Diário de uma viagem ao Brasil", escrito pela inglesa Maria Graham entre 1821 e 1824. Ela narra que na sexta-feira, 11 de janeiro de 1821, dois dias após o "Fico", ela foi convidada para uma récita de gala na Ópera, onde novamente o Príncipe Regente Dom Pedro seria homenageado. Já o fora na véspera.

O convite partiu exatamente da Viscondessa do Rio Seco, a futura Marquesa de Jundiaí. Naquela noite, o Príncipe não foi à Ópera. Ficou em palácio, ocupado a escrever para Lisboa. Por isso, a guarda armada foi despedida e deixou o Teatro apenas para os convivas.

No dia seguinte, sábado, 12 de janeiro de 1821, o Teatro novamente iluminou-se e o casal real foi recebido com todas as pompas e aplausos. Só que por volta das vinte e três horas, o príncipe foi avisado de que corpos de vinte a trinta homens das tropas portuguesas percorriam as ruas, quebravam janelas e insultavam os transeuntes.

Tudo parecia um motim organizado. A notícia espalhou-se pela Ópera e teve início um tumulto. O Príncipe avisou ao povo e afirmou que nada grave ocorria. Já havia dado ordens para reconduzir os soldados amotinados e apelou para que não deixassem o teatro, o que aumentaria o tumulto. Sua presença de espírito e serenidade preservaram a cidade de confusão e miséria.

A Princesa estava para dar à luz. Terminado o espetáculo, foi instalada em uma carruagem com escolta e levada a São Cristóvão. Dom Pedro permaneceu no teatro até que todos saíssem. Então, montou seu cavalo e dirigiu-se ao Jardim Botânico, onde se encontrava o corpo principal de artilharia. Colocou os paióis de pólvora e a fábrica em segurança, trouxe os canhões grandes para defesa da cidade. Passou a noite toda a reunir os diferentes corpos de segurança e só depois – sol a raiar – foi repousar.

São páginas pouco lidas, mas que deveriam mostrar que o Brasil já teve gestos heroicos e geradores de legítimo orgulho para sua gente.

JOSÉ RENATO NALINI é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.

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1 COMENTÁRIOS

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  • Antonio Quirino
    25/10/2022
    Anos após deixar o curso de direito onde um de meus mestres foi o Dr. Nalini, continuo a aprender, com o mestre nas nossas entre linhas da história .