Em busca da produtividade perdida

18/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

"A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo." A famosa frase Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, talvez seja um dos melhores resumos do que aconteceu com o Brasil a partir dos anos 1980, quando o país perdeu a capacidade de crescer. Um estudo elaborado por Fiesp/Ciesp refaz o caminho percorrido pela economia brasileira, comparando o período 1951-1980 com 1980-2021 para entender porque o país tem crescido tão pouco.

As diferenças são gritantes: entre as décadas de 1950 e 1980 o crescimento anual médio do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 7,4%. Nos 40 anos seguintes, este percentual caiu para 2,1%. Entre os motores do crescimento – aumento da força de trabalho, de investimento, de produtividade e capital humano –, todos perderam tração, com exceção do capital humano, que avançou 1,1% ao ano, contra 0,3% das três décadas anteriores.

Para Fiesp/Ciesp, a menor produtividade do país está relacionada ao menor peso na economia da indústria, setor que está entre os mais produtivos. Hoje, a indústria de transformação representa 11,2% do PIB – era o dobro nos anos 1980, década que marca o ponto de virada. Em 1980, a produtividade do trabalhador brasileiro equivalia aproximadamente a duas vezes à dos sul coreanos. Agora, não chega à metade. O país asiático é usado como referência por ter fortalecido o setor industrial.

Outro estudo recente, este publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vai na mesma direção. Mostra que, entre 1995 e 2021, a produtividade da economia brasileira cresceu apenas 0,9% ao ano. Menos do que em países avançados e abaixo do registrado nos cases de sucesso do mundo em desenvolvimento.

Neste período, apenas a agropecuária teve aumento significativo de produtividade, com avanço de 5,6% por ano, em função de ganhos tecnológicos e de escala. Setor que mais emprega e que representa 70% do PIB, os serviços avançaram apenas 0,4% anuais enquanto a indústria regrediu, perdeu 0,2% ao ano.

Está claro, portanto, que a situação do segmento industrial é a que inspira mais cuidados. Com o sugestivo título "À beira da extinção", um estudo da FGV, específico sobre o setor, afirma que a produtividade na indústria de transformação atingiu, no fim do ano passado, o menor patamar em 21 anos. E deve seguir retrocedendo se nada for feito.

Por sua importância para o desenvolvimento do país, é vital que a indústria nacional recupere o protagonismo. Afinal, é o setor com maior multiplicador econômico – alavanca todo o PIB e irradia crescimento para outros segmentos –, oferece os empregos com maior grau de formalização, além de ser um agente da inovação.

Diante disso, obter ganhos de produtividade deveria ser o maior objetivo dos executores da política econômica, uma vez que é condição essencial para o avanço da renda e do bem-estar social. Sobretudo agora que a população está crescendo menos e o bônus demográfico está no fim – ou seja, a parcela dos brasileiros em idade ativa irá diminuir.

O período eleitoral deveria ser o momento ideal para fazer esta discussão. No entanto, infelizmente, continuamos presos a questões urgentes e agendas conjunturais, e não debatemos algo tão fundamental para o país.

No próximo artigo, vamos falar sobre caminhos para reverter esta trajetória e os meios para aumentar a produtividade da economia brasileira.

Vandemir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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