Sem novidade na oferta de apartamentos

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Recuperar valores, restaurar desejos, restaurar o gosto pela arte, pela cidade, pela cidade construída que precisa de socorro porque está sendo só reconstruída, e substituída por contas bem feitas para venda de edifícios sem arquitetura, formando uma categoria de grande massa de pessoas empilhadas em massas de edifícios. Um produto sem cidade.

A máxima é alocar a maior quantidade de gente por metro quadrado que você puder, arrumar tudo colorido e colocar à venda.

Um mercado imobiliário com cara, com distinções de classe social bem evidenciadas, com distâncias entre bairros bem acentuadas, com empreendimentos populares no meio de estradas interurbanas, onde seriam lugares de conservação evidente e de exploração agrícola familiar, mas ali a conta fecha. É o lugar mais atraente para implantar um edifício. Distante do centro, distante do trabalho, com sistemas precários sinuosos e intermitentes de ônibus.

"É fundamental oferecer moradias próximas às oportunidades de trabalho e educação. Não faltam leis, planos e instrumentos, no entanto sua efetiva implementação exige uma assertiva decisão política", diz a carta aberta do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) aos candidatos nas eleições de 2022.

Me aproprio dessa reivindicação nacional dos arquitetos para a nossa Região Metropolitana de Jundiaí, porque a conta que fecha não contempla a cidadania. Mas as consequências desse modelo, o deslocamento, o tempo perdido no trânsito gerado, no ônibus percorrendo sinuosas rotas, o tempo do ônibus parado em filas de carros empilhados é dinheiro que não fecha a conta para a cidade com a consequência de perda da qualidade de vida e consequente deterioração desses novos e modernos assentamentos humanos.

O nosso pool de empreiteiras está com falta de originalidade, de arquitetura para a cidade, para vender com mais qualidade de projeto e materiais inovadores. Não mudam para melhor, resistem fortemente pra repetir modelos consagrados do lado "b" questionável, apoiados em consolidadas estruturas, mas com competentes realizações. Falta no mercado esse produto: arquitetura para a cidade, edifícios mais saudáveis, mais atraentes, para constituir bons bairros; o VGV precisa contemplar de fato as boas relações do edifício com o lugar, lazer, escolas, serviços e empregos. O planejamento oficial promove estas contradições e controla tudo! Tudo amparado por lei. Dentro da lei empreendimentos aprovados em intermináveis e caros processos de licenciamentos.

A novidade é que não tem novidade na oferta de apartamentos, só tem o óbvio que amontoa gente, e quem não está amontoado vê, ao longe, um monte de prédios sem nada, só com muita gente sem nenhuma contribuição para a paisagem da cidade.

E os prédios em que as janelas abrem para o outro prédio igual?  Bem em frente, janela com janela? A vida em comum exige participação em comunidade. Inclusive na privacidade?  Mas e a paisagem que é de graça? Suprime-se? Como se fosse bom cegar a vista, promover o enclausuramento desses novos lugares que crescem com um sucesso espantoso? Mas o desenho nos panfletos e nas propagandas oferece a realização de desejos, de decorações, de possuir produtos de conforto tentadores, e parecidos com o sonho de showrooms oferecidos em venda para a classe A.

Não tenho o nome das massas de edifícios compactando pessoas em grande escala e concentração. Como tudo isso está inserido na rua, na mobilidade a pé, lazer, cultura, escola? Bairros que tem nos grandes atacadistas a melhor maneira de resolver o abastecimento e resolver sumir com o que era a calçada, a rua e a oferta de serviços?

Cada prédio fora de lugar é um novo marco de uso do planejamento legal.

A cidade nova está ficando feia, ficando sem cara, sem graça, perde a identidade. O modelo de negócio com máxima concentração humana, máxima concentração de produtos com hiper atacadistas que ancora o empreendimento, mas está longe de ser suficiente para resolver as aspirações humanas.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista

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