A Santa, o manto e a copa

14/10/2022 | Tempo de leitura: 2 min

Um fato histórico, na página do livro do tempo, foi anotado em 6 de novembro de 1888, no então reinado do Brasil. A princesa Isabel, em pagamento de uma promessa, visitou  a basílica, em Aparecida e ofertou à santa Nossa Senhora, uma coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, juntamente com um manto azul, ricamente adornado.

Desde então, sob a proteção  deste sagrado  manto azul, são atribuídos muitos milagres ao povo brasileiro.

Um deles ficou gravado em minha memória de forma indelével, ainda criança: perdedor de várias Copas do Mundo, inclusive uma final em seu próprio domínio, a arte do futebol brasileiro não conseguia se impor aos olhos do mundo. A seleção canarinha, carinhosamente chamada assim pelo reluzente amarelo predominante em seu uniforme, encantava os torcedores. No entanto, nossos jogadores não se consagravam como reis do futebol. Faltava uma conquista maior aos olhos do mundo.

Mass isso aconteceu na Copa do Mundo de 1958.

Um  time de craques, com as figuras iluminadas como o rei Pelé e o maior ponta-direita de todos os tempos, Mané Garrincha, ainda assim, carregava sobre os ombros o peso da tragédia do Maracanã.

Diziam os críticos da época que os nossos jogadores privavam da maturidade necessária para conquistar um mundial. Careciam de uma bagagem internacional.

Bem sabemos que o futebol é um campo vasto de superstições. Cada jogador tem seu amuleto de sorte e dele não se separa jamais.

A seleção, sempre vestida de canarinho naqueles jogos, vencia os jogos e ganhava ares de apego exagerado à cor amarela.

Veio a final contra  Suécia. Os dois times  acolhiam como cor oficial o amarelo.

O  pobre Brasil daquela época, só tinha um uniforme, o amarelo. Entretanto a Fifa decidiu-se pelo dono da casa. A Suécia ganhou o direito de jogar com seu uniforme oficial. Uma surda comoção abalou nossos atletas brasileiros. Como abandonar o amarelo das vitórias? Era o prenúncio de nova tragédia.

Foi aí, que o chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho, teve uma moção divina. Mandou comprar camisetas azuis.

Na preleção do técnico antes da final do jogo começar, pode se perceber o ambiente angustiante de qual seria a nova cor do uniforme.

Disse o Paulo, naquele instante, que em suas preces em busca da proteção divina, apareceu bem no alto, soberana, a imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Assim com uma força espiritual jamais sentida, pediu a palavra e rogou graças celestiais. Mandou que trouxessem a bolsa, que continha as camisetas do uniforme, e as retirou uma por uma.

– Meus jogadores, desta vez estamos abençoados.. Entrem em campo com a certeza da vitória. Ninguém há de nos tirar este título tão almejado. Vejam a cor deste uniforme.  Estamos acobertados com o sagrado manto azul de Nossa Senhora.

O Brasil sagrou-se pela primeira vez campeão mundial. E de goleada.

O mundo curvou-se diante de nosso futebol. O mundo curvou-se diante do manto azul. O mundo curvou- se diante do milagre de Nossa Senhora Aparecida.

Guaraci Alvarenga é advogado

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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