Respeito

14/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Palavra mágica que abre muitas portas.

Há que se respeitar todo ser humano, seja como for, com todos os seus erros e acertos, lembrando que a "perfeição" não existe e que somos falíveis (a erros e acertos). Já tive a oportunidade de mencionar aqui nesta coluna que, infelizmente, as pessoas são medidas pelos erros e não pelos acertos, o que também está no rol dos seres humanos.

Vale lembrar da secular frase: "Quem nunca errou no mundo"?

De quando em quando deparamos com pessoas se intitulando "perfeccionista" o que, com muito respeito, não procede, pois o que é perfeccionismo para um pode não ser para o outro e a melhor solução, a meu sentir, impõe avaliar o potencial e as limitações de cada qual. Não é equilibrado ou justo medir condutas com réguas próprias e exclusivas.

Essa ideia de perfeccionismo leva, por exemplo, à campanha do "setembro amarelo", que tem por objeto a prevenção contra o suicídio, que afetam as vítimas que se enxergam fora do grupo tipo "modelo", no mais das vezes, entram em depressão profunda e, não encontrando solução, decidem por medidas extremadas contra a própria vida.

Há estudos sérios apontando o aumento desses índices entre jovens e - em grande medida - negros, os quais, como é de franco conhecimento, sofrem toda espécie de discriminação, ofensa, maldades, tudo só pelo fato da coloração da pele. O estrago causado no íntimo dessas pessoas é de altíssima monta e quem não sofre esse tipo de ação não alcança seus efeitos, gerando, inclusive, dificuldade na tipificação de tais delitos. 

A falta do respeito leva a discussões acaloradas e até mortes pelo só fato de opiniões serem divergentes, lembrando que não existe "dono da verdade" ou a minha opinião é a melhor e única; o meu time de futebol é muito melhor que o seu; a minha religião é a única; vou lavar minha honra com sangue... E por aí vai.

Nessa mesma esteira, ainda nesta semana ouvi uma frase muito interessante, tratando do tema "ingratidão e respeito", na qual o entrevistado disse que a avó dele dizia que a "ingratidão é coisa do ser humano. Basta ver que o animal, ainda que dito irracional, ao ser bem tratado é sempre grato".

Causa estranheza também a postura oportunista e desrespeitosa, quando se vislumbram possibilidade de obtenção de vantagem, como, por exemplo, os casos de pessoas que tentam, em concursos públicos, passar por afrodescendentes, fazendo uso, inclusive, de produtos de maquiagem e exposição à luz solar ou mesmo artificial, visando escurecimento da pele, cujos casos, ao serem identificados, geram aos atrevidos sérias sanções, com a imposição das responsabilidades civis e criminais, acarretando perda da diplomação, exoneração do cargo, etc, sendo certo que  essas pessoas só lembram disso quando percebem alguma vantagem e, no mais das vezes, se mantiveram na omissão e distanciamento da realidade.

Em verdade, o ideal seria mesmo que a proposta da Constituição Federal, assegurando que somos iguais em direitos e obrigações, sem perder de vista que referido documento, confessa racismo, discriminação, desigualdades como se lê do art. 3º, no qual informa que se trata de "objetivo fundamental": construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradicar pobreza; reduzir desigualdades; promover o bem estar de todos sem preconceito de origem, raça e etc. Por se tratar de algo a ser alcançado, a pratica e condição existe e, em consequência, ausência absoluta de respeito ao ser humano enquanto ser humano.

A solução que penso é a revisão urgente de todo material didático e pedagógico em todos os níveis de ensino, partindo obrigatoriamente da implementação honesta, verdadeira, robusta, neutra da Lei n. 10.639/03, que obriga o ensino da história da África e Indígena, desmistificando toda maldade imposta contra esse valoroso contingente brasileiro.

A partir da implementação efetiva dessa Lei, com a informação real da verdade e resgate do devido respeito a essa parcela da população, que muito contribuiu para o crescimento, diferenciados apenas pela cor da pele, a tão falada desigualdade diminuirá substancialmente.

Enfim : o respeito é tudo.

Eginaldo Honório é Comendador, Doutor Honoris Causa, Advogado, Conselheiro Estadual da OAB/SP

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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