Reinventar-se no campo

12/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A combalida economia brasileira impõe aos nativos a busca de alternativas que viabilizem sobrevivência. O sucateamento da indústria impõe um desafio complexo. As plantas das novas fábricas reclamam insumos que o Brasil não produz. Perdeu-se o trem da história.

A Quarta Revolução Industrial trouxe tarefas e profissões para as quais a pífia educação tupiniquim não preparou as novas gerações. A recuperação se condiciona a investimentos que deveriam ter sido feito há décadas. Só que as demandas são urgentes. O que oferecer à juventude como opção de sobrevivência digna?

Existe uma promissora perspectiva se a zona rural for redescoberta.

Sem prejuízo de providências como a adoção de um sistema educacional competente e sério e a transformação da insolente Democracia Representativa em Democracia Participativa, há projetos pessoais que podem ser implementados.

Nossa cidade ainda tem uma zona rural que poderia ser bem aproveitada na indústria do turismo. A proximidade com a capital, esta insensata conurbação de vinte e dois milhões de habitantes, faz com paulistanos procurem sair da insensata pauliceia a cada fim de semana. Há um potencial imenso no aproveitamento de peculiaridades inexistentes na metrópole. Para os que se aperceberem disso, atrações de toda a ordem poderão se converter em considerável obtenção de renda.

O turismo com foco em atividades campestres é uma belíssima opção. Precisaria ser incentivado, com políticas públicas que zelassem pela preservação ambiental e impedissem destinação desconforme a imóveis situados em áreas privilegiadas. Depósitos, ferro velhos, grandes muros, construções toscas, afugentam e não chamam visitantes. Seria preciso aprender com os europeus. Preservam a paisagem e a tornam fonte de receita.

Perfeitamente viável que pequenas chácaras venham a servir refeição caseira, permitam aos clientes colher verduras e frutas para seu consumo, ensinem receitas de pão, bolo, doces, geleias, e teriam tudo para prosperar. Há uma florescente indústria artesanal de queijo caseiro ainda inexplorado. Sem falar no artesanato, outra possibilidade vencedora em todo o mundo.

Recente pesquisa global da Mastercard mostra que 81% dos entrevistados buscam experiências turísticas nas quais possam aprender coisas novas. Mostrar às crianças que comida não vem congelada do supermercado, mas que há toda uma arte para o preparo, pode ser algo promissor. Nossa colônia italiana sabe fazer pão, macarrão caseiro, queijo e linguiça. Preparar essa alimentação à vista de quem vai consumi-la, acrescenta valor agregado ao mero fornecimento em restaurante convencional.

Ordenhar uma vaca ou uma cabra, buscar os ovos no galinheiro, constitui divertimento para crianças que vivem trancadas em apartamento.

A região é produtora de vinho. A experimentação do vinho feito para consumo da família, o suco de uva natural, a elaboração de receitas antigas inspiradas na civilização peninsular que migrou para a nossa região, tudo isso seria novidade para um paulistano que busca algo ainda não experimentado.

Também não se descarte o preparo de embutidos, preparação de toucinho ou torresmo. Uma sessão em que os visitantes aprendessem a confeccionar e depois levassem o produto para suas casas não encontraria similar no turismo rural. Comprar é fácil. Fazer pode ser mais sedutor.

E o cultivo de flores e plantas? Há um universo de possibilidades. Basta vontade e empenho e o reinventar-se no campo transformará a vida de inúmeras famílias.

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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