Recessão global à vista?

11/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Nos últimos meses, uma dúvida crucial vem inquietando os agentes econômicos: há uma iminente recessão global? Seguidos alertas neste sentido têm sido emitidos por organismos como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

São muitos os sinais de que as principais economias desenvolvidas e emergentes caminham para um período contracionista. Diante de uma escalada inflacionária inédita em 40 anos, os principais bancos centrais vêm aumentando simultaneamente as taxas de juros para combater a inflação persistente.

O Fed, Banco Central americano, indicou que, para conter os preços,pode levar os juros para um patamar de 5% em 2023, ainda que esta medida coloque uma recessão no horizonte. Além disso, o prolongamento da guerra na Ucrânia contribui para a desaceleração do crescimento econômico.

Esses dois choques na economia – que ainda lida com a desorganização das cadeias produtivas causada pela pandemia– fizeram a OCDE a rever para baixo suas projeções de crescimento para o mundo. Em seu relatório intitulado "Pagando o preço da guerra", estima um avanço econômico global de apenas 3% neste ano, que deve desacelerar para 2,2% no ano que vem. Esta projeção para 2023 é 0,6% menor que a anterior, divulgada em junho e representa perdas de US$ 2,8 trilhões.

Grandes economias como Estados Unidos, China e países da Zona do Euro estão em desaceleração acentuada e, segundo o Banco Mundial,até um "golpe moderado na economia global no próximo ano pode levá-la à recessão".

Recessão traz consequências amargas: trava os investimentos, o comércio global e tira a confiança de empresários e consumidores, resultando, ao fim, em corte de empregos e falências mundo afora.

Somente o G7 (EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) responde por quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Com a globalização, um abalo nas economias desenvolvidas levará à queda da atividade econômica em todos os continentes.

Em função do peso das exportações no PIB chinês, uma recessão global pode colocar um freio na economia do país asiático. O yuan, por exemplo, atingiu a mínima histórica frente ao dólar, que vem se valorizando globalmente. O índice que compara o dólar com uma cesta de moedas das principais economias atingiu valor máximo em vinte anos.

Na Alemanha, à medida que as expectativas de renda se reduzem devido à alta inflação,a previsão é que a confiança do consumidor caia em outubro para o nível mais baixo já registrado.Os alemães são os europeus mais dependentes do gás russo e devem sentir com mais força restrições no fornecimento do insumo. A OCDE projeta recessão na Alemanha e na Rússia no ano que vem.

Os preços da energia, e também dos alimentos, devem seguir afetando a economia em função do conflito. A previsão de inflação para o G-20, grupo das vinte maiores economias do mundo,subiu para 8,2%, em 2022, e 6,6%, em 2023, e está cada vez mais disseminada, segundo a OCDE.

Os investidores ficaram ainda mais pessimistas depois do anúncio do Reino Unido de um plano de amplo corte de impostos. A medida pode acelerar a já alta inflação na região e impactar outros mercados. O plano recebeu críticas de vários setores econômicos, inclusive do FMI, e o governo recuou em alguns pontos.

Neste cenário turvo, o Brasil também será afetado se houver uma recessão mundial, pois é grande exportador de commodities e terá menos mercado para produtos,como petróleo, minério de ferro e grãos. No front interno, no início de 2023, o país estará sofrendo os efeitos da elevadíssima Selic enquanto atravessa uma nuvem de incertezas em relação aos rumos da economia doméstica.

Vandemir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP

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