PRODÍGIOS

Com respostas rápidas e certeiras, elas se destacam na sala de aula

Por Niza Souza | Jornal de Jundiaí
| Tempo de leitura: 5 min
Daniel Tegon Polli
Maria Eduarda Mendes da Gama
Maria Eduarda Mendes da Gama

À primeira vista, elas são crianças comuns. Adoram correr, brincar com os amigos, jogar bola e videogame. Mas após alguns minutos de conversa a gente já percebe que elas têm uma inteligência acima da média para a pouca idade. Não podemos afirmar que sejam gênios, isso depende de testes, como o de QI, mas com certeza elas se destacam em suas tarefas, dentro ou fora da sala de aula, e podem ser consideras crianças prodígio.

Os dicionários definem: criança prodígio é aquela cuja inteligência é extraordinária para sua idade. A Maria Eduarda Mendes da Gama, de 10 anos, é assim. Aluna da escola municipal Pedro Clarismundo Fornari, no bairro Rio Acima, bem longe do Centro, ela está no 4º ano do Ensino Fundamental 1 e é um desafio para seus professores. É a melhor aluna da turma e a primeira a terminar as tarefas. Poderia até avançar de série.

Conversar com a Maria Eduarda é fácil. Ela tem resposta para tudo. As notas são excelentes em todas as disciplinas, inclusive matemática. Mas ela gosta mesmo é de Língua Portuguesa. “Aprendi escrever com 4 anos. Gosto de fazer textos, da ‘pasta da leitura’. Poema e poesia são os que mais gosto”, conta a pequena prodígio, frisando: “Na verdade, eu gosto de estudar qualquer coisa. Não tenho dificuldade em nenhuma matéria, faço  conta de cabeça. Acho que é porque tenho boa memória”, diz, modesta.

A desenvoltura de Maria Eduarda e boa oratória fizeram com que ela fosse escolhida para dar um depoimento, sem roteiro, em um vídeo do projeto “Ludicidadania”, da Guarda Municipal de Jundiaí, que ensina cidadania para crianças por meio do lúdico. “Pra gente ter nossos direitos, a gente tem que fazer nossos deveres”, ensinou ela no vídeo.

A mãe, Rosângela, conta que Maria Eduarda é curiosa e faz muitas perguntas. “Tem coisa que não sei responder. Tenho de estar sempre preparada”, comenta, lembrando que a filha assiste filmes difíceis para a idade dela e entende tudo. “Ela não tem celular, mas sabe configurar o aparelho, editar foto, fazer emoji, coisa que eu mesma não sei”, diz a mãe, que continua: “A Maria Eduarda ainda ajuda a irmã mais nova a estudar, escreve histórias da cabeça dela, lê para irmã. Acho até que ela poderia pular de série”.

RACIOCÍNIO RÁPIDO 

Colega de escola de Maria Eduarda, Rikelme Augusto de Oliveira Gonçalves também tem 10 anos e já está no 5º ano do Fundamental (por conta do mês de nascimento). Ele adora jogar bola e revela que quer ser professor de Educação Física. Com raciocínio rápido, Rikelme adora matemática. “Gosto de fração. É fácil fazer conta, faço de cabeça”, diz. Como é sempre o primeiro a terminar as tarefas na sala de aula, ele costuma ajudar os colegas e até avança na lição. “Às vezes faço o que a professora ainda não pediu, porque é chato ficar sem fazer nada.”

As aulas de ciências também são fáceis para Rikelme. “Entendo rápido a matéria”, comenta, revelando que só não gosta muito de Língua Portuguesa, em especial dos artigos. Mesmo assim costuma tirar boas notas. “Tem vezes que faço o dever de casa no ônibus mesmo, na volta da aula.”

Os amigos Rafael Vanderlinde Villela Conrado e Guilherme Mazone Orrú têm apenas 9 anos, mas já se destacam na sala de aula, especialmente quando o assunto é matemática. Os dois estudam em uma escola particular da cidade e este ano foram medalhistas do Concurso Canguru de Matemática.

O Canguru é a maior competição de matemática do mundo, com mais de 6 milhões de participantes de 80 países por ano, destinada aos alunos a partir do 3º ano do Fundamental até o Ensino Médio. Teve origem na França e é administrada globalmente pela Associação Canguru sem Fronteiras (Association Kangourousans Frontières - AKSF).

“A aula de matemática é o que mais gosto na escola”, conta Guilherme, com um sorriso no rosto. Brincalhão e extrovertido, ele lembra que percebeu essa preferência pela disciplina porque sentiu facilidade para fazer contas de soma, multiplicação e divisão. “A professora dá uma meta para a classe. Eu e o Rafael fazemos na hora. E o restante da classe demora dois dias”, exemplifica o pequeno prodígio. “Outro dia a gente estava fazendo as contas de quantos segundos têm no ano”, completa Rafael, um pouco mais tímido.

Para os pequenos prodígios, a prova do concurso Canguru ‘tava fácil’. “Não costumo estudar muito. O que mais ajuda é prestar atenção na aula. Matemática só tenho nota 10”, afirma Guilherme. Quando soube que havia ganhado a medalha do concurso, ele não acreditou. “Minha vó ficou chocada”, lembra.

Rafael recorda de quando começou a jogar no tablet. “Tinha de fazer contas durante o jogo e minha mãe me disse que a arte de fazer contas era matemática. Com 4 anos já comecei a fazer as primeiras continhas”, diz ele, destacando que gosta de fração. “Se existe ao quadrado e ao cubo, porque não ao retângulo”, questiona.

Para os professores, estes pequenos prodígios são um desafio. Como mantê-los interessados? Quando não é possível adiantá-los de série, uma estratégia é colocá-los como assistentes, ajudando a ensinar os colegas. “A Maria Eduarda entende tudo com facilidade, é muito esperta, inteligente, participativa, questionadora e interage muito bem. Percebi na primeira aula que ela se destacava. Hoje é meu braço direito na aula”, conta a professora Susana Camargo.

A professora Rosana Godoy dá aulas de matemática e ciências para Rikelme e revela que ele tem pensamento rápido e nunca demonstra dificuldade com as matérias. “Desde o primeiro ano eu já via que o desenvolvimento dele é diferente. Ele é muito inteligente, seguro, interessando. Isso faz diferença. Ele tem um futuro promissor.”

Coordenadora do 2º ao 7º ano da escola de Rafael e Guilherme, Cinta Mara Orsi também destaca que estes alunos prodígio são diferenciados, não só no aprendizado, mas na maneira de pensar, na oralidade e como se colocam diante desse universo de curiosidade. “Eles são participativos e tendem a esgotar as dúvidas com o professor. O pensamento deles vai longe. E eles também”.

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