Consciência fecunda

06/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

No deserto de ideias que parece predominar entre os que encaram a natureza como supermercado gratuito, do qual tudo se extrai, nada se repõe, é confortante constatar que ainda existe consciência ambiental. Fiquei muito gratificado ao tomar conhecimento, por comunicação de minha amiga e companheira de página 2 às quintas-feiras, neste nosso JJ, a Maria Cristina Castilho de Andrade, da iniciativa da Casa da Fonte.

Em parceria com a CSJ – Companhia Saneamento de Jundiaí, DAE Jundiaí, Tera Ambiental, Fábrica de Árvores, Regen Ecossistemas, Instituto Olinto Marques de Paulo e STIHL, no próximo sábado ocorrerá o plantio de mil árvores nativas.

O futuro "Bosque da Fonte" mereceu programação caprichada. A partir das 9 horas haverá recepção dos convidados, um café da manhã até às 10, e plantio das 10,30 às 13. Almoço de uma hora e em seguida continuidade do plantio. Encerramento da festividade às 16 horas.

Festividade, sim. Deve ser louvada e incentivada a reiteração de eventos assim, essenciais para a tentativa de salvação do Planeta. Uma Terra sofrida, maltratada, exaurida em seus recursos naturais. O desmatamento no mundo é grande preocupação. A maior ameaça à humanidade não é a guerra nuclear, nem outras pandemias que, infelizmente, não faltarão. O perigo concreto é a mudança climática gerada pelo aquecimento global, causado pela emissão dos gases venenosos que produzem o efeito-estufa.

O planeta precisa de mais um trilhão de árvores. Enquanto se assiste à destruição de todos os biomas, notadamente a Amazônia, que é a última grande floresta tropical do mundo, não se assiste a uma indignação contra grileiros, exploradores de minérios, continuístas no genocídio iniciado no século XVI contra os verdadeiros "donos da terra", os indígenas.

Louvável a iniciativa, que é também pedagógica. Não adianta plantar "uma árvore" no "Dia da Árvore" e continuar a assistir, passivamente, à derrubada de milhares de outras, que a natureza levou séculos para nos entregar. Árvores que trabalham gratuitamente com serviços ecossistêmicos e que nós, inclemente e criminosamente, ceifamos da face da Terra.

Lester R. Brown, cuja opinião devemos escutar com atenção, como adverte Bill Clinton, escreveu o livro "Plano B 4.0-Mobilização para salvar a civilização" e dedica bom espaço dele para a missão de proteger e recuperar as florestas.

A cobertura vegetal da Terra diminui drasticamente. Observa que a utilização do papel reflete a mentalidade do "jogar fora", na cultura do descarte que é verdadeiramente insana. Em países de desenvolvimento tardio, as chamadas "nações periféricas", o consumo irresponsável é a regra. Enquanto em países civilizados há produção mínima de resíduos sólidos, o Brasil produz toneladas diárias de "lixo" e ainda paga para que ele seja removido. Quando esse descarte de coisas aproveitáveis deveria mesmo é ser vendido para indústrias de reciclagem.

Para variar, a Coreia do Sul é um modelo de reflorestamento para todos. Quando a guerra terminou, há mais de meio século, ela estava altamente devastada. Desde 1960, o esforço nacional de reflorestamento mobilizou centenas de milhares de pessoas na tarefa de cavar valas e criar espaços para árvores em terrenos montanhosos improdutivos. O resultado foi o renascimento de exuberante floresta em terras anteriormente ociosas.

A responsabilidade de Jundiaí é maior, porque foi dotada de um patrimônio valiosíssimo, a Serra do Japi. Vendida como atração para o adensamento populacional. Mas quanto tempo faz que ela deixou de ter aumento de cobertura vegetal?

Parabéns à Casa da Fonte e parceiros! Que venham outras demonstrações de lúcida consciência ecológica!

José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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