Se diminuir o desperdício, a fome acaba

É preciso envolver governos, produtores, empresas e consumidores

25/09/2022 | Tempo de leitura: 2 min
Miguel Haddad

No ano passado, segundo a ONU, 828 milhões de pessoas - quase 10% da população mundial - enfrentaram privação alimentar, ou seja: passaram fome. Além disso, calcula-se que outros 2,3 bilhões (29,3% da população global), vivem em situação de insegurança alimentar, isto é, têm que lidar com incertezas a respeito de sua capacidade de obter comida.

De lá para cá, em decorrência da pandemia de Covid-19 e da Guerra na Ucrânia, a situação tornou-se ainda mais grave.

Esse quadro fica ainda mais inaceitável quando se constata que a produção global de alimentos dá, com sobra, para alimentar todo mundo.

Por que, então, tem gente com fome? A resposta é simples, e triste: em grande parte porque um terço dos alimentos produzidos no planeta "se perde ou vai parar na lata do lixo", como denuncia o Estadão em um pungente editorial ("O inaceitável desperdício de alimentos", de 13 de setembro de 2022, página A3).

Segundo as projeções da BCG-Boston Consulting Group, uma empresa de consultoria especializada em estratégias inovadoras, que pesquisou a questão do desperdício de alimento no mundo, no ano de 2030 o total de alimentos desperdiçados deverá somar 2,1 bilhões de toneladas.

Para se ter uma ideia do que isso significa, a atual safra de grãos do Brasil - um dos quatro maiores produtores de grãos do planeta - deve chegar a 271 milhões de toneladas, ou seja 13% disso.

No total, o prejuízo financeiro desse desperdício, calculado em US$ 1,5 trilhão pelo Boston Consulting Group, beira o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Como bem diz o editorial do Estadão, a diminuição das perdas e do desperdício de alimentos envolve uma questão humanitária. É bem um retrato do nosso estágio civilizatório, aceitar que milhões de pessoas estão passando fome neste exato instante e que isso poderia ser evitado se nos empenhássemos seriamente em reduzir esse desperdício.

A boa notícia é que há, segundo o BCG, para as questões econômicas, logísticas, ambientais e de hábitos de consumo que contribuem para essa perda, soluções factíveis, que podem ser postas em prática.

Ou seja, é possível reduzir esses índices, a ponto de cortar o prejuízo financeiro quase pela metade, o que permitiria economizar US$ 700 bilhões ao ano, como mostrou, segundo o editorial do Estadão, recente reportagem do Valor.

A mobilização nesse sentido precisa envolver governos, produtores rurais, empresas, consumidores e a sociedade em geral.

Vamos esperar que os confrontos resultantes da Guerra da Ucrânia encontrem, como já aconteceu no passado, o caminho da Paz e possamos nos dedicar ao que realmente importa.

Miguel Haddad é advogado, foi deputado e prefeito de Jundiaí

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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