O Brasil quer paz

Armas não protegem da criminalidade. Elas acabam nos criminosos

04/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Jose Renato Nalini

Na quarta-feira celebraremos o dia da Pátria. Este ano deveria ser mais festivo e repleto de eventos, pois a comemoração é do segundo centenário da Independência. Há um século, a capital federal promoveu uma gigantesca exposição mundial. Os países amigos capricharam em suas apresentações. Centenas de milhares de visitantes de todo o planeta aqui estiveram.

2022, embora o mundo esteja cada vez menor, diante da facilidade das comunicações, tudo será mais modesto. E isso porque o país foi contaminado por lamentável polarização. Acirramento de ânimos fanatizados por suas ideologias, promovem separação entre famílias, rompem-se amizades. Campeia a agressividade verbal. Com o risco da violência cruenta, eis que nunca se viu tanto armamento em mãos de civis.

Sei que estou numa posição antipática para os que acreditam que, ao se armar, o cidadão se protege da criminalidade. Mentira. As armas acabam nas mãos dos criminosos. Desde o meu ingresso no Ministério Público, em janeiro de 1973, tive facilidade ao porte de arma. Até 2016, quando me aposentei da Magistratura, nunca tive arma. Nunca quis. Nesse ponto sou radical: um instrumento feito para matar, não devia ser fabricado. Já existe suficiente tecnologia para neutralizar uma pessoa, sem necessidade de alvejá-la.

Estamos no país das "balas perdidas" que sempre "acham" um inocente. A corrida armamentista é índice de insanidade. Arranjos golpistas acenam com o uso dessas ferramentas letais. Que predomine a sensatez e que o Brasil se converta para que não persista nessa verdadeira guerra fratricida, embora assim não chamada: a chacina de cerca de setenta mil jovens a cada ano. Sempre do sexo masculino, quase sempre negros e pardos.

O Brasil precisa de paz. Precisa de educação de qualidade. Precisa de saúde física e mental para todos. Precisa de empregos. Precisa de moradia. Precisa de saneamento básico. Precisa se conscientizar de que ainda existe um patrimônio valioso que é a sua cobertura vegetal. O planeta está sofrendo as consequências desastrosas de péssimas escolhas, com o aquecimento global causado pelos gases venenosos, causadores do efeito-estufa, a gerar mudanças climáticas das quais resultam mortes e sofrimento.

Que saudades dos 7 de setembro de minha infância/adolescência. Logo no início das aulas, em agosto, após as férias de julho, tinham início os treinos para o grande desfile. A fanfarra era disputada e cada turma gostava de inovar nos toques e nas performances. Também se ambicionava carregar a bandeira nacional, a bandeira paulista e o pendão da escola.

Com que orgulho se desfilava, todos concatenados em passos harmônicos, num garbo elegante e merecedor de aplausos da família e da população em geral. Era um misto de alegria e felicidade incontida. Amor à pátria, aos valores e à escola que nos abria o caminho para a ventura. A realização dos sonhos dos pais e dos alunos.

O que foi que aconteceu com nossa Pátria? Por que a divisão cruel que aboliu o diálogo, a conversação, a discussão civilizada e o debate esclarecedor, substituindo tudo isso pelo escárnio, pelo deboche, pelo sarcasmo e pelo humor ferino?

Precisamos de paz para obter o estágio sem o qual não conseguiremos transformar o Brasil que temos, no Brasil de nossos sonhos. É com esse espírito que devemos celebrar o 7 de setembro de 2022. Feliz Dia da Pátria, da amizade e do amor entre os brasileiros.

José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS - 2021-2022.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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