Araken Martinho por quase 7 décadas trabalhando arquiteturas emblemáticas e modernas. Depois de 90 anos, eis que temos o reconhecimento do cardeal da arquitetura de Jundiaí, com um rol de mais de 300 projetos e uma atividade, sem interrupção, de 70 anos na cidade com inserções no estado.
O conjunto do trabalho mostra uma arquitetura de excelência e de fidelidade ao geométrico que, como Joaquim Guedes, seu contemporâneo, tinham em comum como método. Vale lembrar que até hoje Araken continua a usar a paralela, esquadro, compasso e a escala. Essa permanência de procedimento técnico, que ensinou a todos os seus alunos e aos arquitetos que passaram por seu escritório, hoje é uma manifestação de resistência, dado que a atual e nem recente base de projeto é o computador e seus recursos que ampliam as possibilidades do projetar e ousar, mas que também permitem uma homogeneização que deixa a manifestação da arquitetura pobre.
É como uma produção que não se reinventa e repete, uma similaridade com a produção industrial em escala. Araken como seus contemporâneos sempre deu atenção à ruptura com o passado e às vezes passava por cima do passado para impor uma arquitetura que se fazia nova. E fez! Hoje o que foi novo é a referência de arquitetura que se quer preservar e se destaca na urbanidade, nas ruas, nos bairros e no skyline com os prédios com feitio claramente dentro das regras estéticas da geometrização.
Tenho que falar das minhas preferências nas casas que fez, por exemplo, a rua Senador Fonseca, número 744, que imprimiu uma contribuição inovadora e um desejo fantástico pelo estilo que, em 1958, fazia um enorme impacto na rua, na cidade, e nos clientes que adotaram o escritório como a melhor verdade para se viver com modernidade. Essa casa tem a característica de oferecer um jardim moderno antes do edifício. As plantas na época também surpreendiam, mais ligadas ao paisagismo de Burle Marx e dos jardins da flora brasileira, que acompanhou seus projetos por décadas.
Na época, o inédito foi quebrar a sequência de portas e janelas das casas construídas no limite do lote e oferecer uma contundente surpresa: a escada que se iniciava quase na calçada estava pendurada, no ar, para acessar o escritório acima, independente da casa. Seus elementos de volume e desenho das esquadrias, somados aos jardins e aos corretos revestimentos deixaram uma arquitetura que mostrou como foi que se vivia ou queríamos viver nesse tempo. A casa está lá!Não vem tendo o cuidado que sempre teve, perdeu o sentido de morar, o ambiente mudou, mas seria muito legal que isso revivesse!!! Outra casa que me chamava a atenção é a que fez para o Drº Nicolino De Lucca, na rua do Rosário, número 809. Essa também com seus ladrilhos geometrizados como Volpi, ou os concretistas ou Atos Bulcão. Está lá ainda como um exemplo do que foi muito apreciado. Outra casa especial foi a da filha, Claudia De Lucca e Gaetano, na Malota. Um monolito construído no jardim que tem a ver com o Regoleta, Barragan e arquitetos mexicanos. O jardim feito pra esse monolito foi da Suzana Traldi.
Uma exposição de parte de seus trabalhos pode ser apreciada no espaço de exposições do complexo Fepasa até dia 9 de setembro, vale a pena pelos projetos e a oportunidade de entender o que é a arquitetura desse decano Araken.
Eduardo Carlos Pereira, arquiteto desde 1973, prêmio Instituto de Arquitetos do Brasil 2019 e 1986.