MEMÓRIA

‘Não parecia real o que eu via’, diz francano sobrevivente do incêndio no Ninho do Urubu

Após passagem pelo Flamengo e Ponte Preta, Gabriel joga no futebol amador de Franca.

Por N. Fradique | 11/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min
da Redação

Arquivo Pessoal

Gabigol, estrela do Flamengo, e Gabriel, jogador de Franca
Gabigol, estrela do Flamengo, e Gabriel, jogador de Franca

Passados cinco anos, o jovem francano Gabriel Castro Ribeiro, 20 anos, ainda tem nítida em sua retina a tragédia que causou a morte de dez jogadores das categorias de base do Flamengo. No dia 8 de fevereiro de 2019, o alojamento do clube, chamado Ninho do Urubu, localizado em Vargem Grande, zona Oeste do Rio de Janeiro, foi totalmente consumido por um incêndio.

Gabriel tinha 15 anos e passava por um período de testes no Flamengo. Ele dormia no CT (centro de treinamento). O jogador francano chegou ao time da Gávea após ser avaliado no centro de captação do próprio clube carioca existente em Curitiba (PR).

Logo após o incêndio, Gabriel foi dispensado pela equipe rubro-negra. Ele ainda tentou seguir no futebol indo para a Ponte Preta, de Campinas, mas voltou para casa após dois anos e meio na equipe campineira. “Fui dispensado pelo Flamengo porque a minha posição, lateral-direito, não era o que eles precisavam naquele momento”, explicou.

Atualmente Gabriel trabalha com seus pais em uma fábrica de bolsas femininas em Franca, mas não abandou de vez o futebol. Ele joga campeonatos amadores na cidade. O lateral está inscrito na Copa Super 8 pela equipe AD Meninos da Vila. “Depois da Ponte Preta, não fui mais para nenhum time. Agora, jogo no amador aqui, em Franca. Estou jogando a Copa Super 8, promovida pela Prefeitura de Franca. Também disputo jogos por outros campeonatos e faço academia”.

Gabriel ainda se emociona ao falar da tragédia no Ninho do Urubu e da perda dos colegas. Ele lembra que naquela noite do incêndio cumpriu a mesma rotina, ao tomar o lanche à noite e depois dormir.

“Ao me deitar, mandei uma mensagem para Gedson Santos - uma das vítimas do incêndio. A gente estava muito ansioso, porque iríamos fazer um treino no Maracanã no dia seguinte. Depois, dormi. Na madrugada, eu acordei com Naydiel e João Gasparim me chamando e dizendo que o alojamento estava pegando fogo. Eu achei que fosse brincadeira, tentei dormir novamente. Gasparim puxou meu pé e disse: 'Estou falando sério, o alojamento está pegando fogo'. Então, saímos correndo do quarto e já me deparei com o fogo, tudo em chamas”.

O jovem conta que, naquele momento, "travou" por alguns segundos, não acreditando no que estava acontecendo, principalmente em receber a notícia de seu amigo, com quem trocara mensagens momentos antes, havia falecido.

“Eu travei por alguns segundos, não parecia real o que eu via. Naquele momento, eu perguntei do Gedson, eles (os dois amigos) só balançaram a cabeça, num momento de desespero. Outros jogadores choravam muito, já não tinham o que fazer. Depois de uns 15 minutos chegaram ambulâncias, bombeiros, funcionários do Ninho do Urubu e começaram socorrer os atletas”.

Gabriel acrescenta que, assim que saiu do quarto na hora do incêndio, ligou para seu pai. “Liguei para meu pai e disse: 'O alojamento está pegando fogo e tem dez moleques desaparecidos. Em seguida, desliguei meu celular porque estava com pouca bateria e eu queria economizar caso precisasse usar. Logo depois, já com o incêndio controlado, o responsável pelo alojamento reuniu todo mundo no refeitório e fez uma chamada e faltavam dez meninos, os que morreram. Enquanto o funcionário do clube fazia a chamada, ele chorava muito”.

O sonho continua
Gabriel Castro disse que ainda sonha em se profissionalizar e seguir a carreira de jogador. “Eu continuo com o sonho de me tornar profissional. Se surgir uma oportunidade em algum clube, podemos repensar e tentar a carreira”.

Mesmo com passagem pelo Flamengo e Ponte Preta, equipes importantes do futebol brasileiro, Gabriel não teve oportunidade de vestir a camisa do clube de sua cidade, a Francana. A cidade foi uma das sedes da Copa São Paulo, sub-20, recentemente e atualmente disputa a série A4 do Paulista, competições que reúnem jogadores no início de carreiras.

“Gosto muito da Francana, tenho amigos que jogam lá. Torço muito por eles e também torço muito para o clube se alavancar, ser um time grande, chegar à primeira divisão, mas não tenho vontade jogar na Francana”, finalizou o jovem, que mora no Jardim Simões, zona Oeste de Franca.

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1 COMENTÁRIOS

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  • JOIAS DAS ARÁBIAS
    12/02/2024
    Enquanto isso, o Flamengo se vangloria como o mais rico do país, das contratações caríssimas que faz e dos salários enormes que paga aos seus jogadores. E, muitas famílias das vítimas desse crime cometido pelo clube se quer foram indenizadas. Essa é a justiça brasileira, cujo pratinho de sua balança sempre pende para o lado dos mais poderosos.