LIBRAS

A rotina desafiadora dos surdos com a falta de conhecimento em Libras

Por Vinícius Nunes | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Vinícius Nunes/GCN
Da esquerda para a direita: Eder de Souza, Carolina Malta e Gilson Barros
Da esquerda para a direita: Eder de Souza, Carolina Malta e Gilson Barros

Assistir a uma aula, conversar com colegas de trabalho, ir ao médico ou ao banco e conversar com familiares. Todas essas e outras são atividades do dia a dia, que muitos fazem sem dificuldade, mas que na vida dos surdos muitas vezes é um grande desafio.

O que torna tudo isso tão difícil? A imensa maioria utiliza apenas o português, enquanto os surdos usam a Libras (Língua Brasileira de Sinais), tornando muito difícil a comunicação entre ouvintes e pessoas que não ouvem.

Durante uma aula, ouvimos a explicação do professor e, no momento em que surge uma dúvida, podemos fazer perguntas sobre o que não ficou claro. Em uma aula de matemática, em que muitos geralmente têm dificuldades, já é complicado entender a explicação do educador, mas como seria a compreensão se o professor não falasse a nossa língua?

José Roberto da Silva, que é surdo, vive e já viveu muitas situações como se fosse um “estrangeiro”. “Quando eu tentava ir à escola, era muito complicado. Não tinha intérprete, então como eu poderia me comunicar? Eu ficava muito perdido, pedia para que escrevessem, mas não funcionava muito bem“, relembra ele.

Ainda no âmbito da educação, Gilson Barros, de 43 anos, é surdo e não conseguiu concluir o ensino médio. Durante seus estudos, ele passou por problemas semelhantes ao de José, e agora estuda pelo EJA (Ensino para Jovens e Adultos) para concluir seus estudos. Dessa vez, Gilson conta com a ajuda de uma intérprete voluntária, o que facilita muito o seu aprendizado.

Além de estudar, Gilson explica que também trabalha na Seleta, limpando as ruas do Centro de Franca, e que é o único surdo do grupo. Durante reuniões da empresa, ele conta que fica “paradão”, sem entender o que está acontecendo. “Todo mundo conversa. Um fala, e depois o outro, até chegar a hora que dão um papel para que eu leia. No horário de almoço to,dos param e eu fico sozinho, faço perguntas, mas não sabem responder. Depois me chamam para conversar, mas como vamos conversar? É todo dia desse jeito”, diz Gilson.

Carolina Malta, surda e formada em Letras, conta que teve dificuldade durante sua formação em uma universidade, tendo ficado um ano “se virando”. “Eu queria muito fazer faculdade. Consegui uma bolsa na Unifran (Universidade de Franca). Eu era a única surda na classe. As aulas tiveram início e o professor só ficava lá falando, e eu perdida, me sentindo mal. Sabia muito pouco de Libras. Após um ano, através de um advogado, consegui resolver o problema. A partir do segundo ano, consegui uma intérprete. Foi difícil, mas consegui me formar”.

Em suas casas, com suas famílias, a vida dos surdos também não é fácil. “Com a minha família não há comunicação. Meu pai e mãe conversam oralmente e sabem muito pouco de Libras. Tenho que escrever. Quando vou ao médico, não tenho intérprete, então levo o meu pai. Ele fala, fala e fala, mas fico com dúvida. Não sei o que está acontecendo”, explica Ricardo Silva, de 42 anos.

Quando ouvintes vão a uma consulta médica, antes de qualquer teste ou diagnóstico realizado, é comum que o paciente explique qual é o problema para o profissional da saúde. No caso de Eder de Souza, que é surdo, é preciso ir acompanhado. “Quando vou ao médico, é muito difícil. A comunicação é muito complicada. Preciso chamar um intérprete para que a comunicação saia”, conta.

Associação dos Surdos de Franca e Pastoral dos Surdos

De 15 a 19 de dezembro foi realizada a Feira da Fraternidade no Parque Fernando Costa. No local, diversas entidades estavam representadas por barraquinhas onde eram vendidos alimentos e vestimentas. Uma delas unia membros da Associação dos Surdos de Franca e a Pastoral dos Surdos.

Durante o evento, a barraca das duas entidades pôde oferecer arroz no arado e crepes, manipulados por surdos. Para o atendimento acontecer entre os dois lados, intérpretes estavam na barraca intermediando a comunicação.

Maria Rita Capel é secretária da Associação dos Surdos de Franca, e estava presente durante o evento, ajudando na organização e como interprete. Ela vê de perto a realidade dos surdos há cerca de 12 anos e faz um pedido a população.

“Precisamos aprender um pouquinho de Libras. A vida dos surdos é muito difícil. A dificuldade já começa dentro da família, onde eles ainda não sabem Libras, então são criadas barreiras. Depois, quando ficam mais velhos, eles vão a lojas, médicos e outros lugares. Hoje, na Feira da Fraternidade, é uma chance de mostrar para todos que o surdo é capaz sim, o problema é a comunicação. Aprendemos inglês nas escolas, então vamos aprender também um pouco de Libras. Vamos facilitar um pouquinho a vida deles, ela é muito difícil”.

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