
Exerce liberdade de expressão quem se opõe à pedagogia de Paulo Freire. Tanto mais livre será essa expressão, quanto mais argumentos e coerência ela tiver, pois a liberdade tem um indissociável conteúdo ético. Não é livre a expressão que se embasa em preconceito, que invoca o ódio em seu discurso.
Mais até: não é livre uma expressão autoritária, que se põe como verdade absoluta e precisa lançar mão da ofensa ou da difamação para se impor. A liberdade de expressão que é livre não precisa ultrapassar os limites da lei.
Foi por seus próprios argumentos e coerência que a pedagogia freiriana se tornou respeitada aqui e no mundo. Uma pedagogia essencialmente libertária, com fundamentos assim:
Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substancialmente formar. Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado.
De testemunhar aos alunos, às vezes com ares de quem possui a verdade, um rotundo desacerto. Pensar certo, pelo contrário, demanda profundidade e não superficialidade na compreensão e na interpretação dos fatos.
Supõe a disponibilidade à revisão dos achados, reconhece não apenas a possibilidade de mudar de opção, de apreciação, mas o direito de fazê-lo. Mas como não há pensar certo à margem de princípios éticos, se mudar é uma possibilidade e um direito, cabe a quem muda – exige o pensar certo – que assuma a mudança operada.
Do ponto de vista do pensar certo não é possível mudar e fazer de conta que não mudou. É que todo pensar certo é radicalmente coerente. (in Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, p. 33. São Paulo: Paz e Terra, 2010).
Nota-se que um professor sectário corrompe os fundamentos freirianos, tanto quanto um professor negacionista. Aliás, o ensino não se restringe à escola e, em maior ou menor grau, somos e sempre haveremos de ser educandos e educadores, daí a importância da ética, da consciência da própria responsabilidade.
Aos ataques que sofre, Paulo Freire mesmo se contrapõe com a maestria que o tornou referência mundial:
Pensar certo – e saber que ensinar não é transferir conhecimento é fundamentalmente pensar certo – é uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo e dos fatos, ante nós mesmos.
É difícil, não porque pensar certo seja forma própria de pensar de santos e de anjos e a que nós arrogantemente aspirássemos. É difícil, entre outras coisas, pela vigilância constante que temos de exercer sobre nós próprios para evitar os simplismos, as facilidades, as incoerências grosseiras.
É difícil porque nem sempre temos o valor indispensável para não permitir que a raiva que podemos ter de alguém vire raivosidade que gera um pensar errado e falso.
Por mais que me desagrade uma pessoa não posso menosprezá-la com um discurso que, cheio de si mesmo, decreto sua incompetência absoluta. Discurso em que, cheio de mim mesmo, trato-a com desdém, do alto de minha falsa superioridade.
A mim não me dá raiva mas pena quando pessoas assim raivosas, arvoradas em figuras de gênio, me minimizam e destratam. (ibidem, p. 49)
E ainda sobre liberdade de expressão, também exerce-a quem se opõe à pedagogia do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, dentro dos limites da lei.
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