DELICADO

Quindim de Iaiá


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O quindim é um doce brasileiro, de nome africano e  origem  portuguesa; aliás, como boa parte da nossa gastronomia e da nossa cultura em geral, miscigenada e por isso mesmo singular
O quindim é um doce brasileiro, de nome africano e origem portuguesa; aliás, como boa parte da nossa gastronomia e da nossa cultura em geral, miscigenada e por isso mesmo singular
Tem tanta coisa de valor/Nesse mundo de Nosso Senhor/Tem a flor da meia-noite/Escondida no terreiro/Tem música e beleza/Na voz do boiadeiro/A prata da lua cheia/No leque dos coqueiros/O sorriso das crianças/A toada dos vaqueiros/Mas juro por Virgem Maria/Que nada disso pode igualar.../O quê?/Os quindins de iaiá
Ari Barroso
 
 
porção: 10
dificuldade: fácil
preço: econômico
 
 
Ingredientes
 10 gemas
 200 gramas de açúcar refinado
 200 ml de leite de coco
 50  gramas de coco ralado
 Manteiga e açúcar cristal para forrar a forma
 
 
 
O Lis é um rio que banha a cidade de Leiria, tornada muito conhecida através do romance “O crime do padre Amaro”, de Eça de Queiroz. Sua nascente encontra-se numa zona calcária e no trecho que corta a área urbana citada, grande parte de suas margens são ocupadas por jardins e calçadas para pedestres. Os campos ribeirinhos são reconhecíveis pelos vários açudes utilizados para regar lavouras de milho, hortas e pomares. Ao longo das águas, caniços, freixos, salgueiros e variedade de aves acentuam a paisagem bucólica. Até desaguar no Atlântico, desfruta-se ali de muita tranquilidade. As aragens conferem o frescor que atrai moradores e turistas. Há canções, histórias, lendas sobre essas brisas. E até um doce antigo chamado exatamente de “Brisas do Lis”, encontrado na maioria das confeitarias do país.
 
Sem fundamento histórico, com amparo apenas na experiência popular, conta-se que a receita das “Brisas do Lis” foi criada no convento de Santana e mais tarde partilhada com uma senhora que frequentava o local. Seria, pois, mais um dos tantos doces conventuais de nomes poéticos. Há porém controvérsia. Comenta-se, em paralelo, uma história que remete ao seio de uma conhecida família da cidade de Leiria, cujos ascendentes eram de Angola. Duas mulheres dessa família, Maria do Céu Lopes e Georgina Santos, aperfeiçoaram a receita e nas primeiras décadas do século XX se uniram e se estabeleceram com o Café Colonial, ainda hoje recordado como um dos mais emblemáticos de Leiria. Os tais doces, chamados inicialmente “Beijinhos do Lis”, foram trocados, depois de piadas inconvenientes. De beijo para brisa. Sem diminutivo.
 
As “ Brisas do Lis” ganharam tamanha fama que não tardou para que outras confeitarias começassem a reproduzi-las, e assim multiplicaram-se, tendo sempre como base as gemas, o açúcar e as amêndoas moídas. É tal iguaria portuguesa que chega ao Brasil com imigrantes da “terrinha.” Mas seria preciso trocar a amêndoa, ingrediente pouco acessível no Brasil, pelo coco ralado. A recriação imediatamente conquistou o paladar do povo; não demorou estava nos tabuleiros das baianas, ganhando as ruas. O nome passa a ser “quindim”, palavra que no idioma ioruba significa “delicado”. Assim, podemos chegar à conclusão de que o quindim é doce de origem portuguesa, recriação brasileira e nome africano. Aliás, como boa parte da nossa gastronomia e da nossa cultura em geral. Em tudo impera a miscigenação que nos faz um povo peculiar.
 
A receita clássica é um primor de praticidade e exatidão. Os ingredientes são apenas quatro: gemas, açúcar, coco ( o leite e o ralado). É fácil de fazer, barata ( ovos nunca custaram tão pouco!) e tem uma linda apresentação. A quantidade aqui listada rende uma forma de 20 cm de diâmetro, ou doze porções individuais se a massa for distribuída em forminhas menores, tipo empada.
 
Segredos não há. Apenas a indicação para passar as gemas por uma peneira, para que a película que as recobre não leve gosto forte ao doce. Para isso, coloque-as numa peneira e perfure com palito, esperando que escorra para dentro da tigela todo o líquido. Não tente apressar o processo, passando a colher. Não vai dar certo. Aguarde uns vinte minutos e no final a película ficará presa às tramas da peneira. Junte às gemas o açúcar, o leite de coco e o coco ralado. Mexa por dois minutos, só para misturar. Unte a forma com manteiga, polvilhe açúcar cristal. Despeje o creme, cubra com papel alumínio e leve ao forno em banho- maria por 45 minutos. Retire o papel e deixe corar. Desenforme morno, porque se quente, vai quebrar; se frio, vai grudar na forma. Depois, duas horas de geladeira no mínimo.
 
Passo a passo
 
1 - Coloque as gemas na peneira e perfure-as, deixando que a película que as recobre fique  presa nas malhas
 
2 - Unte uma forma redonda de buraco ( ou forminhas de empada) com manteiga e polvilhe açúcar cristal 
 
3 - Junte açúcar refinado,  leite de coco, coco ralado e gemas ; mexa ligeiramente
 
4 - Despeje  o creme na forma, cubra com papel alumínio, leve ao forno em banho-maria por 45 m
 
5 - Desenforme morno no prato de servir e leve à geladeira por um mínimo de duas horas
 

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