
Nilva Garcia de Campos diz estar em depressão. Toma remédios para dormir e não consegue pronunciar o nome da filha sem chorar. Sara Cristina Garcia Souza, de 13 anos, estava de braços dados com ela quando foi atropelada no dia 22 de setembro de 2013. O caso causou comoção em Franca, dadas as circunstâncias em que o acidente aconteceu. Ela morreu quase que instantaneamente ao ser atingida pelo carro dirigido por Márcio Adriano Pacheco.
O motorista, segundo a mãe da garota, estava bêbado, mas ficou apenas 48 horas na prisão. À polícia, ele negou a embriaguez e o exame que poderia comprovar a presença de álcool no sangue demorou a ser feito. Preso e sem prova de que dirigia sob efeito de bebida alcoólica, Pacheco conseguiu relaxamento da prisão. A mãe de Sara luta agora para fazer justiça. “Minha vida acabou. Minha filha nunca mais vai voltar e por isso a dor é enorme, mas saber que quem fez isso com ela está livre e não recebeu punição faz esse sentimento ser ainda pior. Não tem um minuto da minha vida que eu não me lembro da Sara”, disse.
O acidente aconteceu próximo à casa das duas, no Jardim Paulistano. Era o final da tarde de um domingo, Sara e Nilva haviam passado o final de semana na roça de um parente, no bairro de Laje, próximo a Ibiraci (MG), e tinham acabado de chegar a Franca. Sara, ainda com a mochila da viagem nas costas, estava de braços dados com a mãe, que conversava com uma amiga. O carro, um Hyundai i30, dirigido por Pacheco, veio em alta velocidade, de acordo com Nilva, e atingiria mãe e filha se Sara não tivesse empurrado a mãe com força para a calçada. O retrovisor do automóvel enroscou na mochila da garota e a arrastou para o chão. Não houve tempo para mais nada. Sara foi socorrida, mas morreu na Santa Casa.
Nilva afirma que Pacheco saiu do carro trançando as pernas e perguntando o que havia acontecido. A delegada Cristina Bueno de Oliveira, que fez o flagrante, viu sinais de embriaguez e pediu a presença de um legista para medir a quantidade de álcool, mas isso foi feito apenas cinco horas após o acidente. O relato da delegada, que é testemunha em um dos processos contra Márcio Pacheco, é uma das apostas do advogado de Nilva, Fernando César Goulart, para provar que ele teve culpa na morte da garota.
Nilva tem outros três filhos homens e Sara era a única mulher e a única a ainda morar com a mãe. “O quarto dela está do jeito que ela deixou, o guarda-roupa com as suas coisas e os bichos de pelúcia de que ela gostava estão lá. Já tentei, mas não consigo tirar nada do quarto”, disse Nilva à reportagem. Junto às lembranças da filha, ela guarda o recorte do jornal com a notícia sobre a morte. “É a minha esperança de que o homem que matou a Sara não fique impune e que, assim, outros casos como esse não aconteçam, porque somente quem perdeu um filho sabe a dor que eu estou sentindo. Ele atropelou minha filha, mas acabou não só com a vida dela. Não vivo mais, sobrevivo apenas” .
Segundo o advogado de Nilva, Fernando César Goulart, há dois processos contra Márcio Pacheco e ambos estão em tramitação. Um criminal, onde Goulart é assistente de acusação, e um indenizatório, onde Nilva pede R$ 480 mil ao réu. Ele tentou um acordo, ofereceu R$ 70 mil para a mãe de Sara, mas ela não aceitou e o processo continua na justiça.
Márcio Cunha, advogado de Márcio Pacheco, foi procurado pela reportagem para comentar o caso, mas não retornou as ligações até o fechamento desta edição, na noite de quinta-feira.
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