Uma pessoa é operada por dia de apendicite


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INTERVENÇÃO - A operadora de telemarketing Patrícia Bernardes mostra a cicatriz da cirurgia que fez depois de ter apendicite: “Minha situação foi bem crítica. Quase morri”, disse
INTERVENÇÃO - A operadora de telemarketing Patrícia Bernardes mostra a cicatriz da cirurgia que fez depois de ter apendicite: “Minha situação foi bem crítica. Quase morri”, disse
Dor no estômago, sensação de estar com gases e febre. Se você está com esses sintomas, cuidado, pode ser apendicite. As cirurgias para retirada do apêndice, uma “bolsa” em forma de verme localizada no intestino grosso, que não tem função e que pode inflamar, são comuns. Pelo menos uma pessoa fez esse tipo de operação por dia em Franca no ano passado. Nos hospitais Unimed e Regional e na Santa Casa foram realizadas 372 operações. O número subiu em relação a 2006, quando as instituições fizeram 278 procedimentos. As estatísticas colocam Franca na contramão do País e do Estado de São Paulo, que tiveram queda no número de extrações do apêndice. Em 2007, números do Ministério da Saúde revelam que 72068 pessoas foram operadas com o problema contra 83644 no ano retrasado. No Estado, foram 17102 nos últimos 12 meses e 19826 em 2006. Por ano são gastos milhões de reais com as operações. O médico cirurgião Eduardo Sandoval, que estima ter realizado em Franca 50 apendicectomias (extração do apêndice) só no ano passado, disse que a oscilação dos números é normal. “Acontece de ter variações sazonais de um ano para outro. Toda doença tem oscilação. No caso da apendicite não tem nenhum fator predisponente”, disse Sandoval. O apêndice é um órgão pequeno, que mede de cinco a dez centímetros, fica colado ao começo do intestino grosso e não tem função alguma no organismo. Com o acúmulo de fezes ressecadas, vermes e até partes de alimentos em seu interior, pode ficar obstruído e, devido à grande concentração de bactérias no intestino, inflama. “Essa ‘tripinha’ costuma entupir com fezes, vermes e alimentos. Já encontramos sementes dentro do apêndice durante as cirurgias”. Não existe causa determinada para a obstrução. Os médicos trabalham com suposições. “Talvez as pessoas estejam comendo errado, o intestino não funciona bem pela falta de fibras e consumo de alimentos muito industrializados. É difícil explicar e cientificamente não há como saber o que provoca a inflamação”, disse o cirurgião. Os fatores causadores da doença não são determinados, mas existe um perfil dos pacientes mais atingidos. A inflamação ocorre em 8% a 10% da população, de ambos e sexos, e é mais comum entre 10 e 30 anos de idade. Mas, anos atrás, já foram registrados em Franca casos em bebês de nove meses. A doença é corriqueira. “De cada dez operações abdominais, sete são de apendicite. É muito freqüente e atinge mais a população jovem”, disse Sandoval. A inflamação costuma evoluir entre seis e 36 horas. Em todos os casos há indicação de cirurgia para extrair o apêndice. A princípio, a operação é simples e de rápida recuperação, mas pode haver complicações. O apêndice pode “encher” e estourar. Quando isso ocorre, o pus se espalha pelo organismo e pode provocar infecção generalizada e matar. “A bolsa fica muito obstruída, inflama, a parede dela apodrece e perfura, permitindo que a secreção contamine todo o organismo ou forme um abscesso, ou seja, uma parte cheia de pus”. A operadora de telemarketing Patrícia Bernardes, 22, fez cirurgia de apendicite no dia 5 de outubro de 2007 e viveu o drama de ter o apêndice perfurado. “Minha situação foi bem crítica. Quase morri”. Patrícia estava bem e trabalhando quando começou a sentir dor embaixo do umbigo. Pensou que fosse gases e se medicou. Como não adiantou, procurou atendimento no Pronto-Socorro “Dr. Janjão”. O médico diagnosticou infecção intestinal. “Tomei os remédios e não resolveu. Procurei a Santa Casa. Ao ser consultada, o médico me encaminhou direto da clínica para o centro cirúrgico”. A operação foi feita com sucesso. Patrícia fez um corte de sete centímetros abaixo do umbigo e ficou dois meses afastada até se recuperar. Só ela conhece 13 pessoas que fizeram esse tipo de operação recentemente. A jovem teve sorte de diagnosticar a apendicite a tempo. Dias depois de ter passado sufoco com a inflamação, um rapaz morreu por que a doença não foi detectada a tempo. O pespontador Ederson da Silva, 23, passou pelo “Janjão” por 12 vezes em seis dias com cólicas e vômitos, mas a apendicite foi descoberta tarde demais. Quando diagnosticada, já havia “estourado” e causou uma infecção generalizada que tirou sua vida. Ele morreu no dia 18 de outubro do ano passado.

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