Sucesso sem estresse


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Geraldo Ribeiro Filho, proprietário da Opananken Calçados, mora em Franca desde a sua adolescência. Aqui, casou-se com a prima Belmira e teve três filhos - que hoje trabalham com ele na empresa.
Geraldo Ribeiro Filho, proprietário da Opananken Calçados, mora em Franca desde a sua adolescência. Aqui, casou-se com a prima Belmira e teve três filhos - que hoje trabalham com ele na empresa.
A história de Geraldo Ribeiro Filho bem que poderia ser igual a da maioria dos empresários francanos. De família simples, entrou em uma fábrica como sapateiro, aprendeu o ofício até conseguir montar uma empresa própria. Até aí, nada de novo, se não fosse um detalhe: sua marca, a Opananken, revolucionou a indústria calçadista ao criar um conceito novo de calçado, o sapato terapêutico. Em 17 anos, Geraldinho, como é conhecido, conseguiu conquistar clientes em todo o mundo e ser copiado por um número cada vez maior de empresas, que viram no antistress uma forma de diferenciar seus produtos. A história de Geraldinho começa na vizinha Pedregulho, terra em que nasceu e viveu até sua adolescência. Já em Franca, com seus 16 anos, seu pai montara uma empresa de torrefação de café. A ele, cabia o serviço de torrar o grão, que era vendido pelo irmão. Depois, seu pai abriu uma cafeteria no Centro de Franca, onde entrava às 5 horas da manhã. Isso se passava na década de 70. Único dos seis filhos da família que não se formou, Geraldinho diz que sempre se preocupou mais com o trabalho. “Sempre tive comigo que eu não precisava estudar. Eu precisava era trabalhar e ganhar dinheiro. Era o que eu gostava mais”. Depois se casou com uma prima de primeiro grau, Belmira. Ele explica que, na época em que casou, a situação era muito difícil, principalmente com a chegada do primeiro dos três filhos que têm. “Eu comecei a trabalhar na fábrica Pestalozzi para aprender a mexer com sapato. Comecei no almoxarifado, depois fiquei dois anos montando amostras. Isso me deu muita experiência”. Depois do Pestalozzi, apareceu a oportunidade de trabalhar com exportações e, com isso, uma melhora na qualidade de vida. “Na época foi bom, porque ganhava em dólar e gastava em cruzeiro. Fiquei 15 anos com o pessoal (de exportação), que foi aonde consegui alguma coisa na vida.” Quando as exportações começaram a entrar em crise, no final dos anos 80, Geraldinho foi para Portugal trabalhar em uma multinacional, em que produzia botas. Lá, em um ano, além de seis meses na Espanha, pegou a experiência necessária para realizar seu sonho. “Eu tinha em mente produzir um sapato que não fosse moda, mas sim, que oferecesse ao consumidor a sensação que se tem ao andar descalço na areia. Nós nascemos para andar na terra. Quando você anda descalço na terra, na areia, no mato, você tem o amortecimento natural do seu corpo “. Prova disso é que o primeiro modelo não tinha muito atrativo estético, como comenta o empresário. “Todo mundo achava que eu estava ficando louco. Fazer um sapato todo costurado, sem colar e feio. Ele era horrível”. De volta ao Brasil, Geraldinho foi então criar seu produto inovador. Para isso, abriu mão de tudo que tinha. “Demorou dois anos e meio para conseguir desenvolver o primeiro par. Eu vendi tudo que eu tinha. Era sócio da Francal Feiras, tinha dois terrenos, quatro automóveis”. Ele comenta que o alto investimento se deu por causa das tentativas frustradas. “Tudo que eu fazia, não dava certo. Por quê? Por que era uma coisa diferente, uma coisa inédita no Brasil, mas não perdi a esperança nenhuma vez”. Depois que conseguiu produzir alguns pares, começou a vendê-los, todos brancos. “Fazia 10 pares por dia, colocava na Brasília que tinha e vendia nos consultórios médicos. Fim de semana eu saia de Franca, ia a São José do Rio Preto, Bauru e parava em frente aos hospitais, abria o porta-malas da Brasília e ali vendia de 20 a 30 pares”. Na época, a fábrica se resumia a ele, sua esposa e a um único funcionário, que trabalha na Opananken até hoje. Os médicos que usavam seus sapatos começaram a solicitar então outras cores, para que pudessem usá-los também fora dos consultórios. A maior surpresa de Geraldinho, no entanto, veio com uma receita médica, em que o especialista solicitava ao paciente de diabetes usar um Opananken. “Eu fiquei muito vaidoso, só que fui questionar a pessoa. Por quê? A pessoa falou que era porque era diabética. Aí fui estudar e vim a saber que o diabético não pode ferir o pé e tem pouca sensibilidade no pé. Ele calça o sapato apertado e não sabe avaliar se está apertado ou não”. Um outro impulso para a Opananken veio com uma feira no Rio Grande do Sul, onde foi convidado pelo Sebrae. Lá, ele sentiu que o produto era diferenciado pela atenção que despertou na exposição. “Todo lojista que entrava, eu oferecia para experimentar o sapato e eles compravam alguns. A atenção foi tanta que a retransmissora da Globo na região, a RBS, fez uma matéria sobre o sapato, que entrou no Jornal Nacional”. A partir daí, a Opananken foi crescendo e ganhando espaço no mercado interno e externo. Hoje, a marca está presente em 10 países, de todos os cantos do mundo, com destaque para o Japão, onde uma rede de nove lojas leva o nome da marca francana. A intenção agora, é conquistar o “meio” do mundo, mais precisamente a Europa Central. “Nosso homem de vendas está na Polônia hoje. Estamos criando um entreposto da Opananken para atender quatro ou cinco países ali. Além disso, vamos ter um na Alemanha e um nos Estados Unidos. A idéia é colocar uma equipe de vendas em cada um desses países”. Tal história de sucesso despertou o interesse de outros calçadistas, que começaram também a utilizar o conceito antistress. “Hoje tem muitos. Não vou citar nomes, mas você vê em Franca que, até em painéis que têm por aí, muitas vezes são sapatos meus fotografados e eles colocam como se fossem deles. Chega a esse cúmulo. O fabricante compra o meu sapato na loja, pega o modelo, troca só a palmilha e faz para vender. Franca deve ter umas 15 marcas. Nada mais é do que uma cópia barata da Opananken”. Geraldinho diz que até pensou em patentear o conceito, mas diz que é muito complicado. “A patente hoje, no Brasil, se você muda um detalhe na sola, já perde o direito”. E a questão da patente não afeta a história de sucesso desse homem, que em 17 anos conseguiu se transformar de patrão de um único empregado a responsável pelo sustento de mais de 600 pessoas, além de seus filhos, que trabalham também na Opananken. Ao todo, são 110 funcionários que trabalham em sua fábrica, mais 500 pessoas responsáveis pela costura e pesponto dos calçados produzidos por ele. Este número, no entanto deve aumentar. Geraldinho está concluindo as obras de sua segunda fábrica, a Zero Stress, que deverá absorver o mesmo número de funcionários da Opananken. E como ninguém vive só de trabalho, Geraldinho também dá algumas “escapulidas” para curtir momentos de lazer. O hobby escolhido, no entanto, é tão intenso como sua vida: motocicleta. “Meu maior lazer é pegar minha motocicleta e andar uns 300 quilômetros”, comenta Geraldinho, que em fevereiro pegou sua esposa, Belmira, e foram para Curitiba sobre duas rodas, viagem que demorou apenas seis horas. Por tudo isso, pela sua ideologia e respeito pela cidade, Geraldinho é Nossa Gente. “Eu não sou francano, sou pedregulhense, mas tudo que tenho foi graças ao francano. Minha esposa é francana, meus filhos são francanos. Por que eu vou para o nordeste para montar uma empresa, se eu tenho tudo aqui?” VEJA MAIS Não perca também trechos exclusivos e detalhes da entrevista no Jornal de Domingo, às 8 horas, e no Jornal da Manhã, às 6 horas desta segunda, ambos na Difusora AM 1030 kHz.

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