
Há exatos 97 dias sem produzir e em processo de recuperação judicial desde 23 de novembro, a situação da Calçados Samello permanece exatamente a mesma: a produção não tem data para voltar e os credores continuam sem expectativa de receber os valores que têm com a empresa, estimados em R$ 65 milhões.
Em 20 de dezembro, a Samello divulgou uma lista com os nomes de milhares de credores mas, até agora, não fez nada de efetivo no sentido de retomar as atividades e, principalmente, pagar as dívidas. Não conseguiu vender bens, nem pegar empréstimos bancários. Sequer buscou negociações individuais com trabalhadores, fornecedores e bancos.
Esta posição só será dada no dia cinco de fevereiro, por imposição da Justiça. Neste dia, a empresa terá de apresentar um plano de pagamento de todos os débitos para ter direito de seguir com o processo de recuperação. Fato, por ora, somente a contratação de uma empresa de São Paulo, a Plancorp Consultoria, para elaborar o plano, mas as bases não são divulgadas pela assessoria jurídica da Samello e nem pela própria Plancorp.
Após a apresentação da proposta, uma assembléia de credores decidirá pela continuação da recuperação ou até mesmo pela decretação da falência da Samello.
O único resquício de atividade da Calçados Samello atualmente são suas 15 lojas franqueadas, espalhadas por dez Estados. Nelas, as prateleiras estão abastecidas e os funcionários, com os salários em dia. Há planos, inclusive, de expansão, com o chamamento para novos franqueados no site da empresa.
Essas lojas não sentem a crise da matriz por serem gerenciadas por outra razão social do grupo, a Samello Franshising, que terceiriza a produção de calçados com a marca para aproximadamente 30 fábricas de médio porte, algumas, inclusive, em Franca. Estas fábricas e os franqueados continuam pagando royalites para a matriz, mesmo com sua paralisação.
Já as redes de lojas de calçados multimarcas vivem situação oposta. Como dependem da produção própria da Samello para repor seus estoques, muitas já não oferecem o produto à sua clientela. Os que ainda têm calçados da marca, contam com poucos pares.
PERDIDOS
A dúvida é uma das principais características do processo de recuperação da Samello. Excetuando-se os bancos, sediados em grandes centros e acostumados com este tipo de ação judicial, os ex-funcionários e fornecedores locais claramente não sabem até onde vão seus direitos. Desconhecem se vão, quando e quanto vão receber da empresa.
Para o advogado e professor de Direito Empresarial da Faculdade de Direito de Franca, Setímio Salerno Miguel, o fenômeno é normal. “A lei é nova, foi aprovada no ano passado, e é muito natural que suscitem dúvidas. Mas a lei é objetiva e impõe condições claras que, certamente, o Judiciário saberá conduzir”.
Segundo Setímio, o processo de recuperação da Samello é o primeiro deferido pelo Judiciário francano baseado na nova Lei de Falências e que, por isso, é natural até que se arraste por um tempo maior. “É um tipo de processo muito complexo, independente das partes envolvidas. Até agora, só houve alguns casos semelhantes em Ribeirão Preto e São Paulo”, disse.
A nova legislação prevê um novo fôlego a empresas em crise financeira, com situação pré-falimentar, assim como a preservação dos empregos que ela gera ou possa vir a gerar.
FUNCIONÁRIOS
Os trabalhadores também não têm muito a fazer, a não ser esperar. Por força da legislação, não podem recorrer à Justiça para receber imediatamente o que têm direito. São cerca de 1,6 mil ex-funcionários e prestadores de serviço, com R$ 8,6 milhões a receber.
Seis deles foram ouvidos e reconhecem que não estão entendendo o processo de recuperação da empresa e em que ele poderá lhes ajudar ou prejudicar. “Não sei mesmo o que está havendo. Pelo que entendi, posso ter de esperar até um ano para receber meu acerto”, disse o pespontador AHCN.
Outros disseram que o Sindicato dos Sapateiros “se afastou” do caso e não tem esclarecido as dúvidas dos trabalhadores. O presidente da entidade, Paulo Afonso Ribeiro, nega que haja tal afastamento. “Realizamos assembléia com 300 funcionários da Samello; contestamos os valores divulgados pela empresa junto ao administrador judicial e ao juiz e estamos com as portas abertas a todos. Não concordo com tais críticas”, disse.
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