Em 1997, o jornal cobrou sistematicamente uma postura da Polícia e do Judiciário para a resolução do mistério que rondava as mortes do médico Antônio Carlos Vissoto e de Renata Olivito Benedini, que mantinham relacionamento extraconjugal. Nesse mesmo tempo lia-se, em várias de suas edições, um anúncio institucional com a seguinte mensagem: “Comércio da Franca - Nós não vendemos silêncio.
Vendemos notícia!”.
Consta, das edições desse período, final de agosto de 1997, o desfecho macabro e, por assim dizer, apimentado: casal de amantes oriundos de famílias tradicionais em Franca é encontrado morto no quarto 15 do Motel Dallas. Num caso cercado por mistérios, por muito tempo pairou a dúvida entre os francanos se o que ocorrera ali teria sido acidente ou duplo homicídio. O Comércio apontava questões que a Polícia não elucidava, como a ida de Célia Benedini, mãe de Renata, ao motel para vesti-la e recolher seus pertences pessoais, e somente em seguida chamar a Polícia. Também a ida de Maurício, cunhado de Renata, ao local. A cena do ocorrido teria sido adulterada, o que teria dificultado as investigações.
O marido de Renata era ligado ao grupo Samello; como executivo da empresa, estava fora de Franca quando a esposa morreu. Durante muito tempo, a investigação trabalhou com as hipóteses de pacto de morte, homicídio seguido de suicídio e de que uma terceira pessoa tivesse planejado a morte dos amantes -por envenenamento, por exemplo.
Corajosamente o Comércio publicou uma lista de perguntas tais como: Qual o resultado da análise do vinho cuja garrafa estava pela metade na cena das mortes? E dos copos? Foram encontrados alguns comprimidos no quarto, na madrugada em que o casal morreu.
Onde estão e o que são esses comprimidos? Foram analisados? Por que o laudo do Instituto de Criminalística de São Paulo demorou tanto para ser divulgado? Quais os métodos utilizados pela Polícia para efetuar as análises que resultaram nos laudos oficiais? Quem teria interesse na morte de ambos?
Uma série de mal-entendidos ainda marca o caso, como o laudo controverso do médico legista Badan Palhares, contestado por muitos - o de que uma falha no sistema de ar condicionado do motel, com o vazamento de gás, teria matado o casal por asfixia e envenenamento -, especialmente num momento em que o perito sofria, em âmbito nacional, uma série de denúncias por irregularidades na emissão de laudos. Aliás, foi ele o perito do caso das mortes de PC Farias e sua namorada; também do caso de Eldorado dos Carajás; da identificação da ossada do carrasco nazista Joseph Mengele. A propósito, o médico-legista Georges Sanguinetti, que veio Franca para contestar o laudo de Palhares, afirmou recentemente ao Jornal Correio Braziliense, (edição de 1º de junho de 2006) relembrando o caso: “Diziam que eles (Renata Benedini e Antônio Carlos Vissoto) haviam morrido devido a um problema no ar-condicionado, que teria expelido uma grande quantidade de monóxido de carbono. Provei que isso era impossível”.
O Comércio cobrou até o mês de novembro daquele ano a resolução do caso, afrontando a Polícia Civil de Franca e os familiares do casal, sobrenomes influentes e poderosos na cidade constrangidos com a repercussão da história. Assim, com o laudo suspeito de Palhares prevalecendo e desconsiderando a divergência de Sanguinetti, o caso foi arquivado pela Polícia.
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