
O cenário para o vereador Vini Oliveira (Cidadania) na Câmara Municipal de Campinas é dos mais complicados — e a tendência é que piore. A abertura da Comissão Processante (CP) por ampla maioria (23 votos a 9) revelou mais que um desgaste momentâneo: escancarou o isolamento quase absoluto do parlamentar entre os colegas.
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O clima nos bastidores é de uma rejeição generalizada. Entre os vereadores, a avaliação predominante é que a relação com Vini vai de ruim a péssima. O parlamentar conseguiu unir contra si não só a oposição de esquerda, como também setores de centro e direita. Não por acaso: colecionou desafetos ao longo dos primeiros meses de mandato, expondo colegas em votações polêmicas, atacando instituições como a Unicamp — o episódio do IFCH foi a gota d’água para muitos — e tentando grudar sua imagem ao bolsonarismo, numa estratégia que foi mal recebida tanto pela esquerda quanto pelos próprios bolsonaristas tradicionais.
É nesse ambiente que a Comissão Processante foi formada, e o quadro não é nada favorável para Vini. Mariana Conti (PSOL), presidente da comissão, é declaradamente crítica do vereador. Em discurso recente na Unicamp, Mariana afirmou que “iria para o pau” com Vini, sinalizando que a condução da CP terá pouca margem para contemporizações. Nelson Hossri (PSD), relator da comissão, também já disparou várias críticas ao estilo e às ações do colega — ou seja, a configuração da comissão é adversa desde o início.
Outro problema crucial: Vini não tem base partidária para sustentá-lo. O Cidadania em Campinas — presidido de fato pelo deputado estadual Rafa Zimbaldi — já rompeu completamente com o vereador e, ainda durante a polêmica com a Unicamp, publicou nota rechaçando seu estilo de atuação. Em outras palavras, o partido, que seria o porto seguro em uma crise, já o abandonou.
E o Quarto Andar? Nem ali há grandes expectativas. Apesar de algumas conversas informais, Vini não tem capital político para negociar apoio dentro da administração de Dário Saadi. Sem partido, sem base, sem boa relação no Legislativo e agora sob investigação formal, o vereador está sem boias de salvação.
É claro que ainda há ritos a serem cumpridos: oitivas, análises e o parecer final. No entanto, o placar da admissibilidade já indicou que Vini teria votos suficientes contra si em uma eventual sessão de julgamento — seriam necessários 22 votos para cassação e ele já enfrentou 23 favoráveis na abertura.
Por fim, é importante destacar que, no sistema eleitoral brasileiro, o mandato pertence ao partido, não ao eleito, o que reforça ainda mais a fragilidade de sua posição.
Seja qual for a linha de defesa adotada, Vini Oliveira enfrenta hoje um processo que reúne adversários de todos os lados, poucas possibilidades de articulação e um desgaste precoce que pode selar sua trajetória política antes mesmo do fim do primeiro ano de mandato.
A cassação, neste momento, está longe de ser improvável.
O conceito de estratégia, em grego strateegia
Em um processo político, a forma como se reage à crise é tão ou mais importante do que a crise em si. No caso do vereador Vini Oliveira (Cidadania), a sequência de erros cometidos nas últimas horas mostra que a gestão da crise está sendo feita da pior maneira possível, agravando ainda mais uma situação que já era delicadíssima.
Nesta sexta-feira (26), a assessoria do parlamentar divulgou uma mensagem que, em tese, buscava humanizar o momento vivido por Vini, informando que ele se afastaria das redes sociais e do gabinete, alegando abalo emocional e início de acompanhamento psicológico. Até aí, uma postura compreensível para quem enfrenta a pressão de um processo de cassação, além do evidente isolamento político.
Porém, o que veio depois foi desastroso.
De forma absolutamente incoerente, o próprio gabinete passou a espalhar materiais atacando justamente o vereador Nelson Hossri (PSD) — o relator da Comissão Processante, peça-chave no destino político de Vini. Criticar aquele que terá papel central na elaboração do parecer é um erro primário e perigoso, que evidencia falta de estratégia e de qualquer tentativa real de buscar uma saída política negociada ou ao menos equilibrada.
Se não bastasse, a equipe também começou a disseminar prints das redes sociais da médica Daiane Copercini, autora da denúncia que deu origem à CP. Ao tentar desqualificar publicamente a denunciante, Vini e sua equipe apenas reforçam a tese de desrespeito, de ataque pessoal e de comportamento inadequado, exatamente o que está no cerne da denúncia.
Os senhores estão anotando?
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.