
A reflexão de hoje obtive recuperando/relendo minhas pesquisas e anotações durante os estudos na época das minhas pós-graduações em sexualidade humana. Ela será apresentada em duas partes e sobre dois pontos de observação. A primeira parte dessa reflexão será da psicóloga Ana Isabel Romero Arcos e do psicólogo Robert Schweitzer. A segunda será da sexóloga, psicanalista e terapeuta familiar, Virgínia Pelles. Aproveitem!
“Chorar ou rir após o orgasmo é mais comum do que pensamos e tem uma explicação biológica e psicológica. Uma explicação possível, e de fato a mais comum, é a explosão emocional que ocorre após o orgasmo. Essa explosão é condicionada por diferentes elementos; entre eles, a cascata bioquímica e hormonal que nosso cérebro recebe e a conexão que sentimos com o outro.
Quando temos um orgasmo, uma cascata bioquímica ocorre em nosso cérebro e em nosso corpo, é quando os hormônios são liberados em toda a sua intensidade, principalmente oxitocina. A oxitocina pode induzir a um estado de hipersensibilidade (que pode nos fazer rir ou chorar após o orgasmo).
Fatores psicológicos e circunstanciais também interferem. Por exemplo, em momentos de grande euforia, a hipersensibilidade tende a levar ao riso, enquanto em momentos de preocupação, a manifestação tende a ser de choro.
O choro após o orgasmo não significa, necessariamente, corresponder à decepção ou tristeza. O que costuma acontecer é que o orgasmo é acompanhado por uma descarga física e emocional. A tensão acumulada é repentinamente descarregada, o que faz girar nossos sentidos e as lágrimas são a manifestação desse estado.
De certa forma, o sexo é uma via de escape (ajuda a liberar o estresse). Por outro lado, essas lágrimas costumam aparecer no período refratário, que é o tempo que o corpo leva para se despertar novamente após o orgasmo. Como já avançamos, no nível psicológico, após um orgasmo, o corpo e a mente tendem a relaxar. E nesses momentos é mais provável que apareçam emoções ou expressões emocionais intensas, como chorar ou rir. A emoção durante o orgasmo é muito intensa e, quando fazemos sexo com uma pessoa, e se essa pessoa significa algo para nós, o sexo pode abrir uma janela de conexão muito íntima e, segundo alguns especialistas, nesse contexto, o choro após o orgasmo seria mais um elemento dessa conexão, dessa interação. É que no sexo, principalmente no sexo mais íntimo, que temos com aquela pessoa especial, muitas emoções emergem. Emoções intensas que depois do orgasmo estão à flor da pele, por isso é natural nos deixarmos levar pelo riso ou pelo choro depois de um estado tão intenso de excitação e liberação.
Uma curiosidade significativa: 41% já sofreram com essa condição pelo menos uma vez na vida e entre 3% e 4% sentem depressão pós-sexo regularmente.
Uma informação importante: rir ou chorar após um orgasmo não deve ser confundido, necessariamente, com disforia pós-coito (mudança repentina e transitória do estado de ânimo, como sentimentos de tristeza, pesar, angústia).
A disforia pós-coito também pode ser outra causa possível de choro após o orgasmo. Isso é definido, coloquialmente, como “a depressão após o orgasmo “. Pode acontecer que, diante de um nível de gozo tão alto, o pós-orgasmo, ou seja, durante o período refratário, o contraste entre estados emocionais seja tão forte que desencadeie sensações de tristeza, ansiedade ou agitação confusas e desconfortáveis, especialmente para aqueles que estão acostumados a sentir prazer e proximidade com seus parceiros. E essa “dor” se traduz em choro após o orgasmo e esses episódios geralmente duram pouco”.
Luiz Xavier é psicólogo clínico e terapeuta sexual.