POLÍTICA

Flávio Paradella: A nova missão de Dário

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação/PMC
Prefeito de Campinas busca reforçar liderança regional e unir prefeitos para pressionar o governo estadual a viabilizar a demanda da saúde na RMC.
Prefeito de Campinas busca reforçar liderança regional e unir prefeitos para pressionar o governo estadual a viabilizar a demanda da saúde na RMC.

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), assume um novo papel estratégico ao ser eleito presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Mais do que um cargo simbólico, a posição representa uma oportunidade para reforçar seu protagonismo político e ampliar sua influência além dos limites municipais. Campinas já é o centro econômico e administrativo da região, e agora, com Dário à frente da entidade que reúne 20 municípios e mais de 3,2 milhões de habitantes, ele busca consolidar sua liderança regional.

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A principal meta de Dário na nova função é destravar uma demanda que se tornou uma novela para os prefeitos da RMC: a construção de um Hospital Metropolitano. A resistência do governo estadual em viabilizar o projeto é um obstáculo a ser superado, e Saadi terá que usar sua articulação para convencer Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado político, de que essa não é apenas uma reivindicação municipalista, mas uma necessidade real para toda a região.

O governo estadual tem adotado medidas paliativas, como contratação de leitos e ampliação de convênios, mas evita discutir a criação de um hospital de médio e grande porte para desafogar o sistema regional. O problema é que as cidades da RMC compartilham a mesma rede de atendimento, e a sobrecarga nos hospitais de Campinas, principalmente no Mário Gatti, Ouro Verde e HC da Unicamp, reflete diretamente na capacidade de atendimento de toda a região.

Dário sabe que o discurso da falta de recursos do governo estadual pode emperrar as negociações. Porém, com o peso político de representar 20 prefeitos, ele pretende colocar a construção do hospital como uma pauta prioritária da RMC. A dúvida é se o governador Tarcísio estará disposto a mudar sua posição e finalmente dar um passo concreto nesse sentido.

Além da saúde, Dário Saadi destacou mudanças climáticas e fortalecimento da economia regional como prioridades. No entanto, a principal estratégia para que sua presidência no Conselho da RMC tenha impacto real será conseguir alinhar as demandas dos prefeitos e criar uma frente unificada de negociação com o governo do Estado.

O desafio será equilibrar essa nova função sem perder o foco na gestão de Campinas, que segue com desafios internos. Mas, se bem articulado, o cargo pode ser um trampolim para fortalecer sua liderança e consolidar a cidade como o eixo central do desenvolvimento da RMC. O primeiro grande teste será convencer Tarcísio de que o Hospital Metropolitano não pode mais esperar.

Comparações

É impossível não traçar paralelos entre as situações. O movimento de Dário Saadi lembra as estratégias adotadas por Jonas Donizette, ex-prefeito de Campinas, durante seu segundo mandato. Em 2017, Jonas expandiu sua atuação para além dos limites municipais e assumiu a presidência da FNP (Frente Nacional de Prefeitos).

Saadi, que já ocupava o cargo de vice-presidente de Saúde da FNP, agora preside o Conselho de Desenvolvimento da RMC e, recentemente, assumiu a liderança do Consórcio Conectar, o maior consórcio público de saúde do país.

Residência médica

Se na semana passada critiquei a suspeita de fraude no concurso de residência médica da Rede Mário Gatti e cobrei celeridade na apuração, agora é justo reconhecer: a resposta veio com rapidez e a decisão foi firme. Em menos de uma semana, a administração municipal não só identificou os responsáveis, como tomou medidas concretas para garantir a lisura do processo seletivo. Sete candidatos foram desclassificados, um processo administrativo foi aberto contra a empresa Consesp, responsável pela aplicação da prova, e o caso já está nas mãos do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para investigação.

A apuração revelou que os sete candidatos desclassificados obtiveram a mesma nota (94 acertos em 100 questões) e, mais do que isso, apresentaram padrões idênticos de erro, um forte indício de irregularidade. Diante desse cenário, a decisão do prefeito Dário Saadi (Republicanos) de suspender a divulgação dos resultados e revisar todas as provas se mostrou acertada.

A rapidez com que a gestão municipal agiu é um acerto que merece ser destacado. O que poderia se arrastar por meses ganhou uma resposta objetiva em poucos dias. Agora, o foco deve estar nos desdobramentos do caso. Como será conduzida a investigação pelo MP? Haverá punição efetiva aos envolvidos? A Consesp continuará sendo contratada para processos seletivos futuros?

A primeira resposta foi rápida e firme. Agora, cabe à administração seguir garantindo que o desfecho desse caso seja exemplar e definitivo.

Reflexos na Câmara

Vale lembrar que o Legislativo tinha um pedido de CPI para investigar a situação. No entanto, após a decisão da gestão municipal, o vereador Vini Oliveira (Cidadania) retirou a proposta. E não foi só isso. Ele também pediu desculpas aos colegas por ter exposto, em suas redes sociais, os nomes daqueles que não assinaram a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito.

O outrora feroz candidato acabou rapidamente acuado pelo ambiente parlamentar e pela experiência dos veteranos. Agora, enfrenta duras críticas da bancada de esquerda por seu recuo. No fim, não agradou a ninguém – nem os colegas, nem parte de seus próprios seguidores, que também reprovaram a retirada da proposta.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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