
Se há uma coisa que brasileiro entende, é de boteco. Aqueles lugares onde o tempo passa devagar, as histórias fluem com cerveja gelada e o dia ganha um sabor especial. Em Campinas, há um bar que é praticamente o embaixador oficial da boemia: o City Bar.
No cruzamento mais famoso da cidade, onde a Rua General Osório e a Júlio de Mesquita se encontram, o bar é muito mais que um simples ponto de encontro. Com cadeirinhas vermelhas e guarda-sóis nas cores da bandeira de Portugal, o City Bar é também um cartão-postal da metrópole.
Nesses 63 anos, gerações se encontram para compartilhar risadas, planos e, claro, o famoso bolinho de bacalhau.
O dono faz questão de levar no nome o bar que comanda com tanto zelo. “Pode me chamar de Seo Zé do City Bar”, disse José dos Santos Antônio.
Há seis décadas, o City Bar serve muito mais que bolinhos de bacalhau – serve histórias. Artistas, estudantes, empresários, jornalistas e até prefeitos de Campinas já se renderam ao charme dessa esquina.
“Aqui já encontrei o Serginho Chulapa (ex-jogador da seleção de 1982 e dos times São Paulo e Santos). O ator Paulo Autran também veio aqui. Ah, aquela que tem a boca suja... a Dercy Gonçalves! Ela chegou no balcão e falou: me dá essa merda aí”, relembrou Seo Zé.
Clientes menos famosos também fazem parte das histórias de balcão. “Gosto de vir aqui no fim de tarde, tomar uma cerveja e comer uma torta. Parece que faz parte da minha rotina, já. Pelo menos uma vez por semana apareço aqui”, contou o analista de sistemas Rogério Matheus Lenhard.
O City Bar é tão tradicional que é da época do cheque e da caderneta, quando ainda podia 'pendurar' a conta. Aliás, um baú guardado como um tesouro ainda preserva uma coleção de cheques sem fundo.
Boteco carnavalesco
Entre pratos e bebidas, o bar ganhou até um bloco de carnaval: a City Banda. Criada em 1994, agitava as ruas por onde passava. Entre os momentos marcantes, o bloco teve a presença até de ícones do samba. Em 1998, o cantor e compositor Jamelão foi homenageado e fez questão de participar da folia campineira.
Relíquias também estão entre a equipe. O famoso Genésio, garçom há 30 anos, é tão parte da mobília quanto as cadeiras vermelhas. “Ele é uma figura. Chego aqui e já procuro por ele. Me sinto amiga dele, atende muito bem. Às vezes ganho um sorriso dele”, contou Camila Barateli Silveira, universitária.
É assim que o City Bar resiste. Enquanto outros bares ao redor do Centro de Convivência viraram poeira do passado, o City Bar segue firme e forte.
“Quem conhece Campinas lembra bem dessa região aqui, o quadrilátero. Aqui tinha o bar Ilustrada, um bar de esfirra e o Scooby, que já até mudou de dono e de nome. Então, posso dizer que o City Bar resiste mesmo.”
Boteco raiz
O segredo? A combinação perfeita entre tradição e um toque de modernidade.
“Enquanto eu for dono do City Bar, ele jamais vai perder a característica de boteco. Fiz algumas melhorias, como o banheiro para deficientes. Mas a alma de boteco continua”, contou.
As receitas também são tratadas como relíquias. O comerciante e a esposa viajam frequentemente para Portugal em busca de novos sabores.
Mas não pense que Seo Zé parou por aí. Ele criou a City Torta, um restaurante um pouco mais chique, famoso pelas tortas que fariam qualquer avó portuguesa orgulhosa. E a próxima novidade? Comidas ultracongeladas para atender o novo consumidor – porque quem disse que tradição e modernidade não podem andar de mãos dadas?
E o bom e velho City Bar? Esse continua ali, resistindo ao tempo com sabor e nostalgia. É a prova de que algumas coisas nunca mudam e, para os clientes, nem deveriam.