MISTÉRIO

Morte de Mc Daleste completa dez anos; cantor é referência para atual geração

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Reprodução/Redes Sociais

A sexta-feira (7) marca o décimo ano desde o assassinato do cantor Mc Daleste em Campinas. Em julho de 2013, Daniel Pedreira Sena Pellegrini, que tinha 20 anos, foi alvejado durante um show em um conjunto habitacional no bairro San Martin. O evento tinha 5 mil pessoas presentes e o funkeiro foi baleado enquanto cantava. Após uma década, o crime, que chocou o país e deu dor de cabeça à polícia, segue sem solução

Daleste chegou a ser socorrido, mas faleceu durante a madrugada no Hospital Municipal de Paulínia, devido a ferimento no estômago.

Inicialmente, a investigação correu em Campinas, mas após nove meses sem muita progressão foi transferida para São Paulo, onde o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) assumiu a apuração. 

Dez anos depois, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) evita direcionar agentes para comentar o caso. A pedido da Sampi, a pasta deu detalhes dos trabalhos através da nota que se segue: “O caso foi investigado pelo DHPP, sendo o inquérito relatado e remetido ao Poder Judiciário em 28 de dezembro de 2015. Em julho de 2020 a família da vítima pediu reabertura do inquérito, no entanto, como não foi apresentada nenhuma nova informação ao fato, a solicitação foi indeferida pelo Poder Judiciário”, diz o texto. 

A reportagem conversou com o promotor responsável pelo inquérito que tramitou no Ministério Público de São Paulo (MPSP). Ricardo Silvares explica que a tentativa de reabertura do caso feita pela advogada da família, utilizou como base áudios do WhatsApp que poderiam conter novos detalhes, o que não se configurou. 

"Após investigação policial, constatou-se que as mensagens dos áudios não convergiam com a linha de investigação vigente. Assim sendo, o caso voltou a ser arquivado e permanece até hoje. Sem nenhuma prova sólida que possa reavivar o inquérito, a tendência é que prescreva”, explica Silvares. 

No bairro San Martin, o crime ainda ecoa na memória dos moradores, mantendo-se como um “assunto delicado”. O show, que ocorreu em um palco improvisado, virou um tabu. 

O entregador Roberto Moreira, 29, morador do bairro, não esquece o momento em que viu o ídolo baleado. Segundo ele, quando o disparo foi efetuado houve confusão entre o público e muitas pessoas ficaram em estado de choque. 

O crime mudou a rotina do bairro. “O bairro estava toda hora na televisão. Ninguém aqui gosta de tocar muito nesse assunto até hoje”, recorda.

Referência e legado no funk
À época, MC Daleste era um dos principais expoentes do gênero no Brasil, sendo considerado um dos precursores do "funk ostentação". Durante sua carreira, ele explorou uma variedade de estilos dentro do funk. No início, se destacou como um dos expoentes dos "proibidões", um subgênero que retrata de forma crua a realidade vivida nas favelas. Alguns de seus maiores sucessos nessa fase foram as músicas "Bonde do 157", "Cena de banco" e "Apologia".

Já em 2013, o artista alçou sucesso ainda maior com músicas como "Mais amor menos recalque", "Nunca vendeu maconha" e "Mina de vermelho". 

Administradora de uma das maiores páginas dedicadas ao cantor, a jovem Aline Barreto, de 24 anos, avalia que o Mc falecido influencia o público do funk até hoje. "Existem fãs dele que são menores de idade e não vivenciaram o auge da sua carreira. Eles descobriram o seu trabalho após a morte, mas mesmo assim criam perfis na internet para fazer homenagens", compartilha. 

Em 2016, a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB) criou, através de Projeto de Lei, o Dia do Funk no estado paulista. A data é celebrada em 7 de julho, em homenagem a Daleste. A lei foi sancionada pelo então governador Geraldo Alckmin. 

A influência de Daleste deu base para muito do que é produzido hoje na cena do funk. O cantor Rodolfo Martins, o Mc Rodolfinho, 29, era adolescente quando conheceu o artista falecido. À Sampi, Rodolfinho afirmou que foi graças a uma música do colega que ele conseguiu alçar voos maiores. 

“Eu escrevi uma música inspirada nele, que foi a primeira que estourou. Na época, eu tinha 16 anos e me lembro que o Daleste era inspiração para toda uma molecada da minha geração, que não tinha muitos recursos, mas tinham o sonho de cantar funk. Ele provou que é possível ser autossuficiente”, contou. 

Rodolfinho e Daleste chegaram a compor uma música juntos, mas não houve tempo para que a canção fosse gravada. “Ele tinha já anunciado que soltaria a música comigo, mas não deu tempo. No dia que soube da morte, foi um choque. Eu estava chegando em um show em uma cidade de Minas Gerais. A ficha não caiu naquele momento, mas no dia seguinte foi um baque”, recordou. “É uma lenda, e assim sempre será”, concluiu.

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