Em Bauru, a média de pedidos de socorro pelo aplicativo SP Mulher, ferramenta criada pelo governo estadual em 8 de março de 2024, revela a dimensão da violência doméstica na cidade.
Desde o lançamento da plataforma até quarta-feira (10), foram 521 acionamentos, o equivalente a um chamado a cada 29 horas e 30 minutos, ao longo de 642 dias. O chamado 'botão do pânico', portanto, é ativado praticamente todos os dias.
As autoridades alertam que o número real de casos é ainda maior, já que muitas vítimas deixam de denunciar por medo, especialmente por conviverem com o agressor dentro de casa. O silêncio imposto por essa realidade mantém os índices de violência subnotificados.
Disponível para sistemas iOS e Android, o SP Mulher reúne, em um único aplicativo, recursos para registro de ocorrências, pedido de ajuda imediata e acionamento rápido da Polícia Militar. Para encontrá-lo, basta pesquisar por "SP Mulher".
COM SEGURANÇA
Especialistas orientam que, caso a mulher viva com o agressor, o aplicativo pode ser baixado discretamente quando ele estiver fora de casa.
Após preencher os dados e, se necessário, acionar o botão do pânico, a vítima pode excluir o app para evitar que o parceiro encontre o ícone no aparelho.
UM ANO SEM HOMICÍDIOS
A morte brutal de Jéssica Pereira Silva, 37 anos, na manhã do dia 8 de dezembro, interrompeu um período de pouco mais de um ano em que Bauru não registrava feminicídios. O dado, que ajuda a dimensionar a persistência da violência contra a mulher, não suaviza o impacto da tragédia: Jéssica, mãe de quatro filhos e cuidadora de idosos, foi assassinada a facadas pelo ex-companheiro enquanto chegava ao trabalho, em via pública, no Jardim Carolina.
Segundo a Delegacia Seccional, este é o primeiro e único feminicídio de 2025 na cidade. O último caso havia ocorrido em 22 de novembro de 2024, na Vila Garcia. Mesmo com o intervalo entre os crimes, autoridades e especialistas reforçam que a ausência de registros não significa redução real do risco, já que agressões, ameaças e descumprimento de medidas protetivas seguem ocorrendo de forma contínua.
Tanto que o crime ocorreu um dia após mobilizações nacionais contra a violência de gênero. No domingo (7), movimentos sociais, coletivos feministas e entidades de direitos humanos promoveram atos em diversas cidades, incluindo Bauru, onde manifestantes ocuparam a avenida Getúlio Vargas para denunciar o avanço dos casos de feminicídio no País.
No caso de segunda-feira, Jéssica tinha obtido uma medida protetiva contra o ex-companheiro há apenas 20 dias. O agressor, José Felipe Tozi Cândido, 38 anos, morreu horas depois em confronto com equipes do 13.º Baep durante tentativa de fuga, no Jardim Niceia.
CONTEXTO ESTADUAL
No Estado de São Paulo, 207 mulheres foram mortas por razões de gênero entre janeiro e outubro deste ano, segundo balanço divulgado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). Os números reforçam que o feminicídio segue uma realidade estrutural, apesar de variações locais.
CASO ANTERIOR
O feminicídio registrado antes deste ocorreu em 24 de novembro de 2024, quando Francielen Alves Rodrigues, 28 anos, foi morta com uma facada no pescoço pelo ex-companheiro. O agressor foi preso no mesmo dia, escondido dentro de uma Kombi, no Parque Santa Cecília.
O feminicídio é uma qualificadora do homicídio prevista no Código Penal, que reconhece os assassinatos de mulheres motivados por violência de gênero, seja em contexto doméstico, familiar ou por menosprezo ao gênero feminino. Nesses casos, a pena é mais severa, chegando a 12 a 30 anos de prisão.
DDM 24 HORAS
Desde o dia 8 de março deste ano, a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Bauru passou a funcionar de forma ininterrupta, com plantão presencial 24 horas. A sede fica na Praça Dom Pedro II, ao lado da Câmara Municipal, no Centro. O telefone fixo é (14) 3224-3301, mas as mulheres também podem pedir socorro pelo número 190 da Polícia Militar.