A divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) na última terça?feira, 16 de dezembro, trouxe novas camadas de incerteza ao debate sobre os rumos da taxa básica de juros no país.
O documento, ao mesmo tempo em que reconhece sinais de desaceleração da atividade econômica e arrefecimento da inflação, mantém um tom de forte vigilância e reforça a possibilidade de que os juros permaneçam elevados por mais tempo do que esperava uma parcela significativa dos analistas.
Segundo a ata, o Banco Central voltou a enfatizar que o cenário atual “prescreve uma política monetária significativamente contracionista por um período bastante prolongado”, reforçando que os juros devem seguir altos enquanto houver risco de desancoragem das expectativas inflacionárias. A Selic — mantida em 15% ao ano, o maior nível em quase duas décadas — continua sendo tratada como instrumento central para garantir a convergência da inflação à meta.
O texto reconhece que há uma moderação gradual da atividade econômica, com desaceleração da demanda e melhora nos indicadores de preços, fatores que têm contribuído para a redução da inflação corrente e das expectativas de médio prazo.
Os dados recentes do IPCA, por exemplo, mostraram inflação abaixo do teto da meta em 12 meses pela primeira vez em mais de um ano, algo ressaltado pelo BC na ata. No entanto, a Autoridade Monetária alerta que as expectativas futuras ainda se encontram acima da meta em todos os horizontes, o que exige cautela e firmeza na condução da política monetária.
Esse tom mais duro não passou despercebido pelo mercado. Embora uma parte do mercado interpretasse a desaceleração econômica como um sinal favorável para o início dos cortes já na primeira reunião de 2026, em janeiro, a ata praticamente fecha essa porta. O documento não oferece qualquer sinalização de início do ciclo de afrouxamento já no mês que vem, e que a maior parte dos analistas agora projeta o começo dos cortes apenas em março, na segunda reunião do ano.
Além de reafirmar que “não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado”, o Copom também menciona riscos fiscais, a necessidade de moderação do crédito e as incertezas do cenário externo como elementos que reforçam a postura vigilante do Banco Central. Esse conjunto de fatores ajuda a explicar por que o BC ainda resiste a abrir espaço para um ciclo de cortes mais cedo, mesmo diante do esfriamento da economia.
O debate, portanto, permanece aberto — e dividido. De um lado, quem vê espaço para iniciar a flexibilização com a inflação arrefecendo e a economia perdendo fôlego. De outro, quem enxerga na ata um claro recado de que o Banco Central considera prematuro reduzir a Selic agora, preferindo aguardar mais evidências de que a inflação caminhará de forma sustentável para a meta.
Com isso, a ata não apenas revela o diagnóstico econômico da autoridade monetária, mas também explicita o dilema de curto prazo: cortar os juros cedo demais e arriscar reacender pressões inflacionárias, ou mantê?los elevados, prolongando a desaceleração econômica. Resta ao mercado seguir calibrando expectativas enquanto o BC reforça sua posição de cautela e vigilância — e mantém as dúvidas sobre se o ciclo de cortes começa em janeiro ou apenas na reunião seguinte.