Cada um leva um prato… e três potes de sorvete vazios
As festas de fim de ano são aquele momento mágico em que todo mundo promete paz, união, harmonia… e, cinco minutos depois, já está discutindo quem ficou encarregado do arroz à grega — que ninguém quer comer, mas sempre tem alguém que insiste em levar “porque é tradição”.
E claro, chega o grande evento, o famoso “cada um leva um prato”. A ideia é linda, quase poética. Pena que, na prática, é um desfile gastronômico duvidoso. Um aparece com farofa, outro uma salada suspeita, tem o que aparece com refrigerante quente… e sempre aparece aquele iluminado que não leva nada, mas aparece com três garfos no bolso, pronto pro ataque.
Mas o mais bonito não é isso. É a comitiva dos potes de sorvete vazios. São criaturas místicas que chegam discretamente, sem fazer barulho, muitas vezes escondidas dentro de sacolas. O dono do pote jura que trouxe “só por precaução”. Precaução de quê? De faltar comida? Não, de faltar marmita. Porque esse cidadão já chega com a certeza absoluta de que vai levar metade do pernil e um quarto do pavê pra casa.
Aliás, pavê é sempre um capítulo à parte. É o prato que reúne a família, divide opiniões e testa limites diplomáticos. Quem fez o pavê se ofende se não comerem. Quem come se arrepende de tê-lo feito. E quem não come leva pra casa porque “depois melhora na geladeira”.
Nas festas de empresa, o cenário é ainda melhor. O colega que abre a casa faz discurso emocionado:
— Gente, minha casa é de vocês!
No dia seguinte, ele já está no grupo do WhatsApp dizendo:
— Pessoal, lembrando da caixinha da limpeza, viu? A faxineira quase desmaiou ontem…
E sempre tem aquela dupla de colegas que passou o ano inteiro estressada, então resolve lavar a roupa suja justamente na confraternização que, ironicamente, foi marcada para evitar esse tipo de coisa. Em cinco minutos, já estão discutindo sobre quem não respondeu e-mail, quem deixou tarefa incompleta, quem roubou o copo personalizado do RH e assim vai.
Mas nada supera a família. A família é um Brasil à parte.
Tem o parente que esquece de levar o que prometeu.
Tem o que come dobrado “porque não almoçou”.
Tem o que bebe triplicado “porque está de férias”.
E tem o que, depois de tudo isso, ainda sai ofendido quando alguém pergunta:
— Fulano, o que você trouxe mesmo?
E ele responde com aquela sinceridade irritada:
— Eu trouxe a minha presença, que já vale muito!
Vale tanto que ele ainda leva uma quentinha caprichada pra casa. Não uma quentinha tímida. Não. Ele leva um combo: bolo, lasanha, suflê, rabanada, o último pedaço do pernil e, de brinde, um copo descartável cheio de salada de maionese “pra viagem”.
E não podemos esquecer as tias. A elite das embalagens. Elas não levam apenas um pote. Levam coleção: potes, potinhos, potões, tampa que não combina com o fundo, fundo que não combina com a tampa — um verdadeiro festival Tupperware clandestino. Elas já chegam avisando:
— Trouxe esses aqui só pra garantir, tá?
Garantir que vão voltar para casa com o equivalente a um estoque de restaurante.
No fim, por trás das risadas, confusões e potes misteriosos, as festas de fim de ano continuam iguais: um caos organizado, sustentado por amor, carboidratos, parentes inconvenientes e a eterna expectativa — sempre frustrada — de que este ano vai ser diferente. E no fundo, a gente sabe: se fosse diferente… nem seria festa de família.