OPINIÃO

O “aprendizado” de máquina – e a geração dos algoritmos ambulante

Por Wellington Anselmo Martins | O autor é mestre em Filosofia (Unesp)
| Tempo de leitura: 1 min

Consumir cultura sem reflexão é semelhante ao envelhecer sem amadurecer. Quem assiste a inúmeras séries e filmes no piloto automático vive como um idoso infantilizado que atravessou décadas sem realmente interrogar a própria experiência. A quantidade de vivências, assim como o excesso de informações, não garante um elevado conhecimento ou sabedoria.

Quantidade não é qualidade; não raro, é antônimo.

A sociedade do século XXI incentiva o consumismo de imagens, notícias, memes e histórias como quem abastece máquinas com dados — não pessoas. O cérebro humano, saturado, entra em piloto automático: reage, mas não interpreta; repete, mas não transforma; fala do ódio que ouve, sem interromper o ciclo.

Como um avião que, uma vez estabilizado no automático, voa programado e sem desvio, a mente pode continuar funcionando em níveis burocráticos (técnicos, repetitivos) enquanto o piloto real da consciência adormece em níveis espirituais (éticos, criativos).

O excesso de estímulos faz a consciência dormir. Nesse estado, a vida deixa de ser livre projeto e torna-se apenas funcionamento pré-programado.

No aprendizado de máquina (machine learning), sistemas robóticos recebem grandes volumes de dados, detectam padrões e os reproduzem sem compreender valores, sentidos ou finalidades. Inteligências artificiais (IAs) podem recitar Fernando Pessoa sem se emocionar, citar a Constituição de 1988 sem pensar no orgulho de ser brasileiro, ler o Sermão da Montanha sem sentir desejo de se converter ao cristianismo…

Na IA tudo funciona com indiferentes ajustes estatísticos. É tudo número, mas não é matemática — pois não tem vida.

Quando sobrevivemos assim, tornamo-nos algoritmos ambulantes. Envelhecemos sem amadurecer. Estamos hiperinformados, mas não somos cultos de verdade. Consumismo cultural não produz pessoas cultas, pois é a reflexão crítica que transforma experiência em sabedoria: a técnica em ética, a ciência em filosofia

Comentários

Comentários