OPINIÃO

A Creche Escola é o berço da alfabetização neural

Por Rosa Malena Pignatari | A autora é jornalista de formação pela Unesp Bauru, mestre em Comunicação Midiática
| Tempo de leitura: 3 min

Paulo Freire dizia que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Ele estava certo, ainda mais agora que a neuroeducação revela que a aprendizagem acontece quando os lobos cerebrais conversam em harmonia. Na Creche Escola essa leitura de mundo acontece através das experiências sensoriais, afetivas, cognitivas, motoras, do desenvolvimento da linguagem e, sobretudo, do jogo simbólico. Lembrem-se!!! Cada experiência sensorial é uma porta neural para o aprendizado futuro.  A neurociência mostra que o cérebro é aprendente porque é plástico, ou seja, se modifica quando age e reflete. Nesse contexto, o educador é quem desperta o olhar curioso, a escuta sensível, o gesto investigativo e, em meio a esse processo, nasce o sentido das letras, antes mesmo que elas apareçam.

Uma atividade simples intitulada “Som, movimento e olhar”, destinada a berçários I com crianças de 6 meses a 1 aninho, é capaz de movimentar os quatro lobos cerebrais. Como? Com o uso de chocalhos coloridos ou garrafinhas de 200ml com grãos (arroz, feijão, milho etc), um pano colorido e um espelho, o educador balança o objeto suavemente e o bebê olha. Nesse simples ato, a atividade ativou o lobo occipital, o Jedi do conhecimento interior.  Permite identificar letras, formas e palavras, associando-as as imagens mentais. Sem o occipital, a leitura não teria imagens; é o ponto de partida visual da alfabetização. O bebê ao ouvir o som e tentar localizar, ativa o lobo temporal, o Jedi da memória, das vivências e da sabedoria. O educador fala o nome do bebê e o estimula a bater palmas ou balançar o chocalho, aviva o lobo frontal, o jedi do planejamento. Quando o bebê estende a mão, segura e explora o objeto, aguça o lobo parietal, o Jedi da harmonização e da percepção. Ao final, o educador mostra cada bebê no espelho e diz: “Olha quem aprendeu com o som e o olhar”. Mostrar a imagem da criança no espelho reforça o vínculo afetivo e a consciência do eu, aguçando o sistema límbico – cérebro emocional ? está no “meio do cérebro”, “por baixo” dos lobos cerebrais, como se fosse o coração emocional que liga o corpo às funções mentais superiores.

Aqui está um exemplo da alfabetização antes das letras – a pré-alfabetização neural – onde o cérebro se prepara para compreender o mundo. O lobo frontal organiza o gesto, o temporal processa a fala, o occiptal reconhece o movimento visual e o parietal integra o toque e a posição do corpo.

Nesse contexto, o jogo simbólico é uma ferramenta fundamental, pois quando a criança brinca de faz de conta (surge a partir dos 2 anos e, conforme Jean Piaget, permite com que ela represente mentalmente o que vivencia) ela define “quem é quem”, decide “o que vai acontecer” e regula o comportamento — por exemplo, “agora eu sou a professora, você é o aluno”.  O faz de conta ativa o lobo frontal, o centro executivo do cérebro. É ele quem organiza o pensamento, planeja o estudo, mantém o foco e a concentração. Sem ele, as ideias ocorrem, mas não se conseguiria estruturá-las, tampouco concluí-las. Durante o jogo simbólico, o sistema límbico (amígdala, hipocampo) também é fortemente aguçado: é ele que colore de emoção a experiência, fixando as aprendizagens na memória afetiva.

O cérebro aprendente é ativado por esforço, reflexão e emoção. É o que a educadora Janaina Spolidório deixa claro na obra “Neurogênese da Alfabetização”. Daí a importância do educador como mediador desse processo de planejar, observar, registrar, avaliar, promover, pensar em saídas metodológicas inventivas e aplicar de forma criativa atividades didático pedagógicas na mais tenra idade, em Creches Escolas.

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