Desafios da Fruticultura Brasileira
De 4 a 8 de agosto de 2025, ocorreu o XXIX Congresso Brasileiro de Fruticultura, a 1ª Feira de Tecnologia ‘Brazil Fruits’ e o X Prunus sem Fronteiras, em Campinas (SP), cujo tema principal foi o impacto das mudanças climáticas na fruticultura. A promoção foi da Sociedade Brasileira de Fruticultura (SBF), entidade sem fins lucrativos, criada exatamente em Campinas em 1970, que organizou sua 1ª edição em 1971.
O Brasil é o 3º maior produtor mundial de frutas e apenas o 23º exportador de frutas frescas, em função do expressivo consumo interno. Há, porém, potencial de crescimento devido à diversidade, sabor e apelo nutricional das frutas, embora dependa da ampliação do poder aquisitivo dos brasileiros.
O Estado de São Paulo se destaca na produção e processamento, principalmente de cítricos, como laranja e lima ácida Tahiti, mas também apresenta relevância na produção de banana, uva de mesa, vinho, goiaba, figo, manga, abacate, acerola e macadâmia. Recentemente, outras frutíferas começaram a surgir como opções de renda para a agricultura familiar, como pitaya, mirtilo, lichia e cacau.
A fruticultura possui um valor agregado por área bem superior às cadeias de produção de grãos, cana-de-açúcar e pecuária de corte, o que pode viabilizar a agricultura familiar com geração expressiva de renda e empregos.
Como primeiro desafio abordado no XXIX CBF, foi destacada a necessidade de o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) planejar a modernização da maior central atacadista da América Latina, o Ceagesp de São Paulo. Pela sua importância no abastecimento nacional, não pode parar.
Os gargalos operacionais mencionados pelo presidente da Ceagesp no evento incluem movimentação de caminhões, carregamento e descarregamento, armazenamento, cadeia de frio, possíveis inundações, congestionamentos, custos elevados por uso intensivo de mão de obra, limpeza e segurança. Trata-se de uma cidade com presença diária de 50 mil pessoas, que depende de água, energia, manutenção e gestão de conflitos entre permissionários ou atacadistas, não apenas de frutas, mas também de flores, hortaliças e pescados.
Na exportação de frutas frescas, o polo de fruticultura irrigada de Petrolina/Juazeiro, além dos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, se destacam na exportação de melão, manga e uva sem sementes. Já São Paulo se sobressai na exportação de lima ácida Tahiti, avocado, figo, atemóia e macadâmia. No suco de laranja concentrado, o estado mantém destaque com grandes empresas produtoras e processadoras, cujo desafio é conviver com a principal doença da citricultura mundial, a bactéria conhecida como ‘Greening’, transmitida pelo inseto vetor Psilídeo.
Atualmente, existe legislação fitossanitária federal específica para manejo da doença, apresentada no Fórum de Defesa Vegetal. A citricultura brasileira, por ser o maior produtor mundial, ficou isenta das taxações impostas pelos Estados Unidos. Entretanto, a taxação de 50% sobre algumas frutas, como a manga, trouxe dificuldades para a comercialização no mercado americano, como destacou o presidente da ABRAFRUTAS, Eng. Agrônomo Guilherme Coelho, no Simpósio da Manga.
Na infraestrutura de exportação, o principal modal é o marítimo, via porto de Santos, que demanda ampliação de terminais, logística de acesso e contratação emergencial de auditores aduaneiros para agilizar produtos perecíveis.
Bauru conta com um porto seco ou entreposto aduaneiro (EADI), onde profissionais do MAPA e parceiros realizam inspeção sanitária de avocado, limão tahiti e mirtilo. Frutas mais perecíveis utilizam o modal aéreo, tornando o Aeroporto Internacional de Guarulhos o principal terminal de exportação, inclusive do Nordeste e interior de São Paulo, devido ao grande fluxo de voos internacionais.
Ainda no Congresso, especialista em tráfego aéreo apontou a falta de um terminal específico para produtos perecíveis, que ficam misturados a outros produtos, dificultando a movimentação de palets. Em caso de imprevistos no carregamento, não há câmara fria adequada para figo, goiaba, atemóia, pitaya, mirtilo ou caqui, cujos custos podem chegar a um terço do frete aéreo.
Fica claro que a sustentabilidade da fruticultura nacional depende de reformas estruturais complexas, capazes de trazer competitividade global ao setor, diante de mercados disputados por grandes exportadores como Chile, Peru, Colômbia, México e África do Sul.