Bauru pode estar vivenciando um fenômeno preocupante de subnotificação de casos de hanseníase, o que compromete o diagnóstico precoce e o início do tratamento, essenciais para evitar sequelas da doença. O alerta foi feito durante uma audiência pública realizada na manhã desta quarta-feira (24) na Câmara Municipal, organizada pela vereadora Estela Almagro (PT).
Segundo Artur Custódio, assessor da coordenadoria nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) e integrante do Gabinete de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, há evidências de que casos da doença podem não estar sendo notificados de forma adequada, inclusive em cidades do interior de São Paulo como Bauru.
A declaração foi feita diante do secretário municipal de Saúde, Márcio Cidade Gomes, que reconheceu a possibilidade de subnotificação na cidade e aceitou a oferta de capacitação para os profissionais da atenção básica. O treinamento será promovido pelo próprio Ministério da Saúde.
Durante o encontro, também foi discutido o histórico da hanseníase no Brasil e a negligência histórica com os pacientes. Bauru foi sede do Asilo Colônia Aimorés, onde pessoas acometidas pela doença eram internadas compulsoriamente até a segunda metade do século XX. Atualmente, o local abriga o Instituto Lauro de Souza Lima.
Pacientes da antiga colônia e filhos separados dos pais por conta da política de isolamento deram depoimentos emocionados durante a audiência, revelando traumas que permanecem. Muitos deles hoje têm direito à pensão especial, garantida por legislações federais que reconhecem os danos sofridos.
A secretária de Assistência Social, Lúcia Rosim, também participou da audiência e destacou o papel da pasta na articulação de ações de inclusão social, uma vez que a hanseníase está diretamente ligada à vulnerabilidade socioeconômica.
Custódio sugeriu ainda que Bauru utilize a estrutura do antigo asilo como espaço de memória e educação sobre a doença, por meio de emendas parlamentares. A vereadora Estela afirmou que vai articular essa proposta e propôs um encontro nacional de vereadores de cidades que abrigaram leprosários, para debater políticas públicas de enfrentamento à hanseníase.
Ao fim do evento, Estela entregou uma Moção de Aplauso a Artur Custódio, aprovada por unanimidade na Câmara, em reconhecimento à sua atuação em defesa das pessoas atingidas pela doença.