CULTURA

Artista Irineu Nje'a Terena abre mostra 'Boca do Sertão'

da Redação
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Divulgação
Irineu Nje'a Terena
Irineu Nje'a Terena

O artista indígena Irineu Nje'a Terena abre nesta terça-feira (2), no Centro Cultural de Bauru, a mostra artística 'Boca do Sertão', considerada pelo próprio autor um gesto de travessia e enfrentamento. A exposição nasce da terra marcada pelo silêncio forçado, onde os trilhos da história foram colocados sobre corpos indígenas e a promessa de progresso apagou vozes ancestrais, destaca texto enviado pela assessoria de imprensa.

"Historicamente, o Interior paulista foi palco da chamada "pacificação" dos Kaingang, iniciada em 1912 como parte de uma investida sistemática do Estado para garantir a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Sob esse termo eufemístico se escondem estratégias de contenção violenta, remoções forçadas e apagamentos culturais. Aproximadamente dez grupos Kaingang ocupavam a região, mas em 1916 foram deslocados para Icatu, em Baraúna, e para a Aldeia Vanuíre, em Arco Íris — onde resistem até hoje, contra o esquecimento", avalia o artista indígena.

De acordo com ele, a ferrovia, inaugurada em 1906, tornou-se símbolo do avanço colonial sobre os territórios indígenas. "As aldeias foram destruídas, os povos dizimados, e a floresta desmatada para dar lugar à promessa de desenvolvimento. Hoje, o que resta são trilhos enferrujados, dormentes apodrecidos e vagões esquecidos no pátio de Bauru — ruínas do que o Estado chamou de progresso. Contra esse passado imposto, "Boca do Sertão" se apresenta como contranarrativa, como memória que sobrevive e insiste em falar".

A mostra é um projeto realizado com apoio do Programa de Ação Cultural, da Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo e percorre as cidades de Bauru, Araraquara, Birigui e São Paulo, levando para cada território o chamado à escuta e à reparação. As obras expostas, cerâmicas e desenhos do artista indígena Irineu Nje'a Terena, são testemunhos artísticos do genocídio indígena no centro-oeste paulista e da persistência de culturas que se recusam a desaparecer. Nelas está gravada a dor, mas também o ritual, a beleza e a luta.

Irineu Nje'a Terena, artista indígena da Aldeia Kopenoti, Terra Indígena Araribá, é o corpo-memória dessa exposição. Residente em Bauru, sua arte é resistência viva. Por meio de suas cerâmicas, narrativas e desenhos de denúncia, Irineu recupera vozes caladas, questiona o pacto colonial que estrutura a história oficial e invoca a força espiritual de seus antepassados.

SERVIÇO
O Centro Cultural fica na avenida Nações Unidas, quadra 8. Informações: aracipontomemoria.cultura@gmail.com

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