Na manhã de terça-feira (26), a Câmara Municipal de Bauru voltou a colocar em pauta um tema que se impõe às cidades do século 21: como se preparar para o desenvolvimento tecnológico em ritmo acelerado? A Reunião Pública foi convocada pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Casa, presidida pelo vereador Arnaldinho Ribeiro (Avante), e reuniu representantes do poder público, universidades e setor produtivo.
O encontro deu continuidade ao debate iniciado em julho e resultou na formação de um grupo de trabalho, que se reunirá sempre na última terça-feira de cada mês, em locais alternados. A ideia é estimular a circulação de experiências entre as instituições e criar um espaço permanente de articulação.
Apesar das boas intenções e dos exemplos apresentados, a reunião expôs o quanto Bauru ainda engatinha quando o assunto é inovação tecnológica. De um lado, o município mostra avanços, como a adesão a programas federais e a implantação de sistemas de georreferenciamento. De outro, enfrenta gargalos que travam o processo de transformação digital, como a baixa qualidade de internet disponível nas escolas municipais.
O secretário de Educação, Nilson Ghirardello, admitiu que a rede de ensino sofre com a dificuldade de acesso à internet rápida, o que compromete a aprendizagem dos alunos e limita a introdução de ferramentas digitais em sala de aula. Para tentar reverter o quadro, Bauru aderiu à Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec), do Ministério da Educação. Ghirardello ainda acolheu a sugestão de integrar os estudantes ao Centro de Inovação Tecnológica (CIT) em atividades no contraturno, além de avaliar a proposta de criar uma Olimpíada Científica municipal.
A coordenadora do CIT, Tathiana Rodrigues Saqueto, destacou a importância de aproximar a inovação da comunidade escolar. Já o secretário da Fazenda, Everson Demarchi, lembrou que o Plano de Governo da prefeita Suéllen Rosim (PSD) prevê a digitalização da máquina pública, mas alertou que é preciso mais contribuição das universidades.
Essa aproximação entre academia e setor público foi reforçada por representantes das instituições de ensino. Eduardo Aguilar Arca, da Unisagrado, citou a telemedicina como exemplo de solução que pode otimizar o atendimento em saúde. Já José Ricardo Scareli Carrijo, professor da ITE, defendeu maior integração entre o município e o CITeB, que reúne as competências das universidades locais em um "mapa do sistema de inovação". Para ele, só é possível avançar se Bauru conseguir articular as chamadas "quatro hélices": poder público, universidades, empresas e o sistema S.
Do lado empresarial, Solange Navarro, do Ciesp, lembrou que a indústria já opera sob a lógica da chamada Indústria 4.0 e pode contribuir com palestras e visitas técnicas. Essa interação, porém, ainda é incipiente em Bauru.
O pano de fundo do debate é a constatação de que a cidade, embora celebre avanços pontuais, corre o risco de perder protagonismo regional se não acelerar sua inserção na economia digital. A modernização das escolas, a digitalização de processos públicos e a aproximação entre universidades, empresas e governo são peças de um quebra-cabeça que ainda não se encaixou.
A próxima reunião do grupo foi marcada para 30 de setembro, no próprio CIT. O tema será definido pela coordenadora do centro em conjunto com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação.
Até lá, permanece a pergunta que ronda os corredores da Câmara e ecoa entre empresários e educadores: Bauru está preparada para acompanhar o avanço tecnológico ou continuará refém de projetos fragmentados e sem continuidade?