A terceira audiência pública promovida pela Câmara Municipal de Bauru na noite de terça-feira (26/08) sobre o Plano Plurianual (PPA) 2022-2025 e as perspectivas para o próximo ciclo (2026-2029) revelou não apenas números e previsões orçamentárias, mas também embates sobre transparência, prioridades de investimento e limites de execução do planejamento público.
O encontro, convocado pela Comissão Interpartidária, presidida pelo vereador Natalino da Pousada (PDT), reuniu gestores de quatro áreas estratégicas — Meio Ambiente, Agricultura, Infraestrutura e Emdurb — além de vereadores e cidadãos interessados.
Embora cada secretaria tenha apresentado incrementos no orçamento futuro, o tom das discussões evidenciou o contraste entre projeção de recursos e capacidade real de cumprimento.
MEIO AMBIENTE:
Aumento expressivo, mas questionamentos sobre efetividade
A secretária Cilene Chabuh Bordezan destacou um crescimento de 30,42% no orçamento da pasta para o próximo PPA, que passa de R$ 353,3 milhões (2022-2025) para R$ 460,8 milhões (2026-2029). O pacote inclui desde a ampliação do Viveiro de Mudas e do Jardim Botânico até novos fundos voltados ao meio ambiente e à proteção animal.
O reforço orçamentário, no entanto, foi acompanhado de críticas. O vereador Márcio Teixeira (PL) sinalizou que irá fiscalizar o cumprimento das promessas, enquanto Estela Almagro (PT) classificou as apresentações como "teatro", questionando a falta de clareza para a população. Munícipes também apontaram a desproporção entre o baixo valor destinado à educação ambiental e o volume de demandas ligadas à causa animal e à manutenção de praças.
AGRICULTURA: Orçamento tímido diante das demandas rurais
A previsão para a Secretaria de Agricultura e Abastecimento é mais modesta: de R$ 9,6 milhões em 2026 para R$ 11,3 milhões em 2029. Entre as ações, destacam-se a manutenção de estradas rurais, implantação de um "mercadão municipal" e incentivo à agricultura urbana.
Apesar da diversidade de projetos, os vereadores reforçaram que a pasta enfrenta gargalos históricos, como a precariedade das estradas que afetam o escoamento da produção. O orçamento relativamente baixo em comparação a outras áreas reforça a percepção de que o setor rural segue em posição secundária na estratégia global do município.
EMDURB: Foco em reorganização e modernização
Com previsão de R$ 427,6 milhões até 2029, a Emdurb aposta em projetos de reestruturação interna e em melhorias de mobilidade urbana, como modernização de semáforos, reforço do GOT e criação de uma "Cidade Mirim" de educação para o trânsito. Também entram na lista a renovação da frota e obras na Rodoviária, cemitérios e aeródromo.
Apesar dos planos robustos, paira a dúvida sobre a capacidade de execução da autarquia, que nos últimos anos enfrentou críticas por ineficiência e problemas administrativos. O orçamento elevado pode indicar prioridade política, mas ainda não dissipa a percepção de fragilidade estrutural.
INFRAESTRUTURA: PPP de iluminação e grandes investimentos
A Secretaria de Infraestrutura prevê salto de R$ 190,6 milhões em 2026 para R$ 240,4 milhões em 2029. O secretário interino Teo Zacarias Martins destacou quatro eixos principais: obras, iluminação pública, sinalização viária e gestão participativa.
O ponto central foi a Parceria Público-Privada (PPP) da iluminação pública, que prevê substituição integral das luminárias por LED, promessa recorrente de modernização urbana. A aposta em parcerias privadas reflete uma tentativa de ampliar a capacidade de investimento diante das limitações fiscais do município.
ANÁLISE: Entre números e política
As audiências sobre o PPA cumprem exigências legais de transparência, mas o debate desta terça-feira mostrou que a prestação de contas enfrenta déficit de clareza e acessibilidade, como apontaram vereadores e munícipes. O aumento orçamentário em várias áreas, embora positivo, não garante por si só efetividade na execução, especialmente em secretarias historicamente fragilizadas.
O embate político também esteve presente: enquanto a base governista buscou ressaltar avanços e incrementos de recursos, oposicionistas cobraram objetividade, criticando a forma "espetacularizada" das apresentações.
No pano de fundo, o ciclo do PPA funciona como um termômetro da capacidade do município em alinhar planejamento e realidade — e a cada audiência cresce a percepção de que a distância entre projeção orçamentária e execução prática é o verdadeiro desafio a ser enfrentado em Bauru.